sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Salvador e o dia em que o medo matou a esperança.


Em Salvador, policiais militares grevistas andando armados e enncapuzados, tocando o terror. Comércio fechando as portas, população em pânico, e o governador pressionado por não estar na capital. Tudo a menos de quinze dias de uma grande festa popular. Sem saída, restou pedir auxílio ao governo federal. E, enquanto o governo do Estado alega que a greve é ilegal, a oposição apóia a revolta e acusa a incompetência de quem ocupa o poder.

Quando ocorreu isso? Em junho de 2001, menos de duas semanas antes do São João. À época, o grupo político que hoje governa era oposição. E, como opositores combativos que eram, aliaram-se aos grevistas e responsabilizaram a incompetência do governo.

Passados dez anos, eis que a história cumpre a sina de sempre se repetir... Tudo ocorreu da mesma forma, só que quem antes acusava o governo, agora ocupa o poder. E, se antes andavam de braços dados com os revoltosos, agora os acusam de promover uma greve ilegal! Ô, não entendi! Porque antes o movimento era tão legítimo a ponto de merecer apoio político, e agora não mais merece tamanho carinho?

Quem me conhece - e/ou me lê - sabe que não cultivo apreço por correntes ideológicas que acham que o coletivo se impõe ao indivíduo. Isso porque a teoria, (mal) disfarçada de cordeiro, esconde o lobo do homem que promove um grupo seleto à categoria de detentores exclusivos da Verdade. Na União Soviética, enquanto o povo não comia nem o pão que Stálin esmagou, a cúpula do Partido comia queijos e vinhos importados da França. Com certeza, deve haver uma boa teoria que justifique o privilégio dos camaradas...

Pra mim, a metonímia é outra, e o indivíduo faz o coletivo, e não o coletivo determina o indivíduo. E isso me é tão claro que poderia ser justificado por questões semânticas, né? Só há coletivo, quando há indivíduos. Mas a recíproca nem sempre é verdadeira...

Voltando ao tema, um ex-presidente, famoso por falar tudo o que não pensa, guru máximo do atual governo, falou sem pudores que “quando a gente está na oposição, faz muita bravata”. Em 2009, Gordon Brown, então primeiro-ministro britânico, cometeu a inconfidência de contar uma confissão do brasileiro: "Quando eu era líder do sindicato, eu culpava o governo. Quando me tornei líder da oposição, eu culpava o governo. Quando me tornei governo, passei a culpar a Europa e a América.”

A política baiana, parece, segue à risca os ensinamentos do mestre, e mostra que na prática a teoria é outra.

O atual grupo político se notabilizou nacionalmente por pregar que a esperança venceria o medo.

Passados 10 anos, mostraram que cultivaram o medo para vender uma esperança. Só que a esperança foi a única a morrer.

Obs.: Não citei nomes nem partidos para deixar claro o quão sem identidade se tornou a política. E, apesar de todos estarem bastante parecidos, sempre há uns bem mais iguais do que os outros...

  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

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