segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Deus, Crumb e a vergonha terrestre

Ontem foi dia dos pais. Então, vou falar um pouco de Robert Crumb, que interpretou a mais célebre história de pais e filhos: o Gênesis. Atualmente, Robert Crumb é um dos desenhistas mais badalados do mundo. Nascido na Filadélfia em 1943, passou muitos anos como um artista underground, alternando alguns sucessos, muitos fracassos, instabilidades no casamento e LSD... muito LSD. Com um traço característico, que reflete toda sua angústia, conseguiu tornar-se cult. Tanto que veio ao Brasil participar da FLIP - Festa Literária de Paraty. Na sua adaptação em quadrinhos do livro Gênesis, Crumb, um ateu convicto, retrata a criação de uma maneira crua e direta, mostrando explicitamente as passagens mais polêmicas envolvendo cenas de nudez e violência. Mas, apesar de sua descrença, a obra não é uma crítica. Muito pelo contrário. Crumb foi fiel ao texto, que classificou como "poderoso, com camadas de significados que mergulham fundo em nossa consciência coletiva, ou consciência histórica”.

Crumb é tão avesso a badalações quanto descrente na raça humana. Tanto que não foi nem um pouco simpático com os fotógrafos nos dias que antecederam sua palestra na FLIP. Mas, na hora do evento, se mostrou afável, apesar da acidez de declarações tais como "Tenho vergonha de viver no planeta Terra". E, curiosamente, Terra mostrou bom motivo para vergonha. Não Terra, o planeta, mas Terra, o portal online. Ao comentar a falta de paciência de Crumb com o assédio da imprensa, o Terra estampou na sua capa: "Robert Crumb dá show de grosserias e mal humor na Flip". Isso mesmo: mal humor. E repetiu a barbaridade várias vezes no texto interno. A redação torta ficou assim por nada menos de 3 horas, até ser alterada. Crumb tava certo. Terra dá uma vergonha danada...


  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

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