quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Meu bem, meu mal

Você é meu caminho / Meu vinho, meu vício
Desde o início estava você

Onde o que eu sou se afoga / Meu fumo e minha ioga
Você é minha droga / Paixão e carnaval

Meu zen, meu bem, meu mal

Caetano Veloso


Amanhã é sexta-feira 13. Para muitos, um dia de maus presságios. Para outros tantos, como Zagallo e eu, um dia que pode abrigar gratas surpresas. E, sendo possível tanto o bem quanto o mal, lembrei de "Travessuras da menina má", de Vargas Llosa, onde bem/mal convivem numa linha tênua e tensa. Na Lima dos anos 50, o pré-adolescente Ricardo Somocurcio conhece a linda e intrigante Lily. Nasce ali uma paixão que poderia ser só mais um arroubo juvenil, não fosse o resto... Na década de 60, Ricardo realiza o sonho de viver em Paris, como tradutor na UNESCO. Tudo ia calmo até conhecer a militante comunista Arlette. Qual não foi a surpresa ao ver que aquela era, na verdade, sua quase esquecida Lily! E a paixão, antes adormecida, reviveu avassaladora. A partir daí a história ganha contornos fantásticos. Arlette-Lily e Ricardo se reencontram em vários cenários ao longo dos 30 anos seguintes. Ele, o mesmo Ricardo, ela, sempre uma nova identidade. Paris, Londres, Tóquio, Madri... Em cada lugar, Ricardito reedita cegamente seu sentimento. Já a menina má vive com ele momentos comedidamente sinceros, com sumiços intermitentes em busca de outras vidas. É como se a menina má sempre o guardasse para quando algo desse errado. E, de certo, ele sempre a recebeu, pois tinha a consciência de que sem ela "perdera as ilusões que fazem da existência algo mais que uma soma de rotinas", mesmo vivendo como quem nunca quis tê-la ao seu lado, num fim de semana, um chopp gelado em Copacabana. Em sua última aparição, a menina má está gravemente doente. E, quando percebe que pouco tempo lhe resta, percebe também o quanto lhe sobra de amor por Ricardo. E, apesar de tudo, o sentimento ainda é recíproco. No fim, ambos vêem o quanto o amor guarda do bem e do mal. Como numa sexta-feira 13, é só questão de ponto de vista e maneira de viver os acontecimentos. E Ricardo, tão letrado, bem poderia ter apresentado a menina má a Drummond:

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer
seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se você conseguir, em pensamento, sentir
o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo,
ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...

Se você não consegue imaginar, de maneira
nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem
cego para a melhor coisa da vida: o AMOR !!!

Carlos Drummond de Andrade

  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

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