Em Alguma Parte Alguma
Anteontem foi Dia de Finados. E, lembrar dos que não mais estão (pelo menos no conceito de matéria do senso comum), é manter viva a existência. Como bem disse André Comte-Sponville, no seu genial O Ser-Tempo: "sou o que fui, o que aconteceu comigo, o que fiz, je suis été, eu sou sido, como dizia Sartre, o que quer dizer que sou meu passado". E, como disse Guyau: "tudo é presente em nós, inclusive o próprio passado". O presente é essa tensão entre dois nadas: o passado, que já não é mais; e o futuro, que ainda não é. Somos, então, aquilo que lembramos e aquilo que projetamos. No seu novo livro, o sensacional Em Alguma Parte Alguma, Ferreira Gullar transita entre referências de existencialismo e física (ainda falarei muito desse livro....). No poema A Propósito do Nada escreve:
sou o que digoe faço enquanto passosou a consciência de mime quando vinda a morteela se apagueserei o que alguém acasosalve do olvidojá que para mim(lume apagado)nunca terei existido