segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Tropa de Elite e o erro de Rousseau

O novo Tropa de Elite, mais uma vez, é sucesso de público. No filme, os bandidos (no senso comum da palavra) quase não aparecem. E isso se dá por uma questão simples: porque não se cogita a possibilidade de bandido ser outra coisa que não... bandido! E essa visão já havia sido mostrada no primeiro filme. Logo, não há o que discutir. Posto isso, parte-se para expor a faceta mais canalha da polícia e da política, dominadas por corruptos os mais diversos.
E, mesmo ao apresentar o lado ruim das instituições que deveriam zelar pela ordem, o filme mostra que a partir delas podem sair ações de mudança, neste caso, representadas por Nascimento e pelo deputado Fraga. Afinal, "A Polícia" corrupta só existe por causa dos policiais corruptos que compõem a polícia. E, infelizmente, segundo o filme, eles são maioria. Porém, apesar do cenário desanimador e revoltante ali retratado, a mensagem que se passa é a de que a polícia e a política são o problema, mas também a solução.
Jean-Jacques Rousseau inventou aquele troço de que o homem é bom por natureza, e a sociedade o corrompe. Curiosamente, ele não se preocupou em continuar imaculado, sendo carinhosamente classificado por Hume como “monstro que se via como o único ser importante do universo”, por Diderot como um “enganador, vaidoso como Satã, mal-agradecido, cruel, hipócrita e cheio de maldade”, e por Voltaire como “um poço de presunção e vileza”. Voltaire, por sinal, criticou-o da maneira sempre brilhante no conto O Ingênuo.
Em Tropa de Elite 2 a tal sociedade que corrompe também pode servir de meio para punir o homem que a faz corrupta. Basta que ela seja composta menos por Rouseau e mais por Voltaire, para que, assim, os homens possam livrá-la de todo o mal. Sem amém.

  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

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