Bienal, urubus e ex-BBBs
Foto: Daigo Oliva/G1
"Um dos problemas da arte contemporânea é que certos artistas andam tendo 'idéias' demais e se querem 'inteligentíssimos'. Sejamos modestos. 'Idéias' não são para todo mundo. Deus, por exemplo, teve uma. Depois se arrependeu, aí mandou um dilúvio para desmanchá-la, depois tentou consertá-la, mandando seu filho para dar um jeito e até hoje tenta corrigi-la".
Esse é um trecho do excelente livro "Desconstruir Duchamp", de Affonso Romano de Sant'Anna. E, em tempos de Bienal, é bem apropriado. O artista Nuno Ramos está expondo uma dita obra que consiste numa gaiola gigante com dois urubus. Perguntado a respeito, ele disse que acha que poderia ser interpretada como uma crítica política. Pois é... nem ele sabe por que diabos uma gaiola com urubus está num museu, e não num zoológico. A arte contemporânea virou uma grande peça publicitária, onde o que importa é gerar repercussão. E, sendo assim, nada melhor do que criar polêmica. Essa é a palavra-chave dessa nova arte: polêmica. Já teve gente expondo toneladas de terra, expondo dois caminhões de lixo, paredes vazias, cartões de ponto, uma cama, um video de 8 horas com o cara dormindo... Enfim, o importante é gerar polêmica, aparecer nos meios de comunicação, ter um empresário, um assessor de imprensa, e ganhar uns trocados para aparecer em eventos. Resumindo, ser artista contemporâneo é o mesmo que ser um ex-BBB...