quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sai Baba, Voltaire, e a farsa dos milagres


Eu sou da teoria de que o mundo fica melhor quando morre um canalha. Semana passada morreu Sai Baba. Sai Baba é um autoproclamado iluminado que conquistou milhares de devotos com uma fórmula infalível: extravagância, truques baratos de ilusionismo, parábolas e fábulas cheias de metáforas bregas, obviedades piegas, e uma capacidade incrível de não dizer nada em muitas palavras. Acessei o site dos seguidores brasileiros de Sai Baba. Lá estavam muitos de seus pensamentos, se é que podemos chamar assim. Não tive muita paciência de ler aquele amontoado de palavras órfãs de sentido. Mas me deparei com algo interessante. Diz o guru:

"A mente deve se transformar em servidora do intelecto, não em escrava dos sentidos. Ela deve ter discernimento e desapegar-se do corpo. Como o fruto maduro do tamarindo, que se torna solto dentro da casca, a mente deve desprender-se desta casca, deste invólucro chamado corpo. Batam num tamarindo verde com uma pedra e vocês causarão dano à polpa no interior; mas batam numa fruta madura e vejam o que acontece. É a crosta seca que cai; nada afeta a polpa ou a semente.O aspirante espiritual maduro não sente os golpes do destino ou da sorte; é o homem imaturo que é afetado por cada revés".

Hum... bem interessante. Quer dizer que a mente servidora do intelecto (seja lá o que isso signifique) deve ser como um tamarindo. Muito inteligente essa analogia. E estou bem de acordo. Acho que muita gente possui dentro da caixa craniana a mesma coisa que um tamarindo maduro tem dentro da casca. O que me surpreende é como as pessoas que creem em Deus acreditam nesses gurus. Elas não percebem que crer em alguém autoconsagrado procurador divino é rebaixar Deus a uma condição ridícula.

O genial Voltaire também recorria a fábulas, só que para criticar ideias que não concordava. Ele usava esse recurso por ser um estilo recorrente dos pretensos sábios. Era mais um componente do seu repertório irônico e sagaz. Para falar sobre milagres e religiões, Voltaire não recorreu às fábulas, mas manteve o discurso ácido. Em seu "Dicionário Filosófico", disse: "Chamamos milagre à violação das leis divinas. Assim, quando um morto fizer a pé duas léguas de caminho levando a cabeça debaixo do braço, isto quer dizer que sucedeu um milagre". A abordagem de Voltaire sobre os milagres segue um linha extremamente inteligente. Voltaire nega os milagres justamente por causa da existência de Deus, e não pela sua inexistência. Num outro trecho, escreve: "Por que faria Deus um milagre?" e segue como se Deus respondesse: "não pude, com meus decretos divinos, com minhas leis eternas, preencher certo plano; vou mudar minhas leis imutáveis, e tratar de executar o que não consegui fazer". Então, Voltaire conclui: "Ousar supor que Deus realiza milagres é insultá-lo, é dizer-lhe frágil e inconsequente. Portanto, é absurdo crer em milagres, é desonrar de certo modo a Divindade".

Voltaire, de certo, sentiria enorme vergonha alheia de Sai Baba. Um dos grandes "milagres" do tal guru é cuspir ovos de ouro. Quer dizer que, para melhorar a humanidade, Deus mandou um cara que vomita ovo pela boca? Acho que Voltaire diria que se isso é o máximo que Deus pode fazer, melhor deixar aos homens a responsabilidade sobre suas vidas.

Abaixo segue um trecho do documentário "O Segredo de Sai Baba", que aborda as inúmeras acusações de pedofilia e mostra o asqueroso truque do ovo de ouro.

O mundo ficou um pouco melhor essa semana...


  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

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