quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Elogio de Vargas Llosa


Mario Vargas Llosa ganhou o Nobel de Literatura! Sem dúvidas, o prêmio está em boas mãos. E, para mim, não só pela sua obra literária. Numa América do Sul onde a maioria dos intelectuais não conseguiu se desvencilhar das ilusões utópicas de décadas passadas, Vargas Llosa conseguiu ser uma voz destoante, que não é complacente com ditadores por causa da direção das suas idéias, e não vê o populismo barato como uma representação realmente popular. Voltando à literatura, semana passada li o "Elogio da madrasta", uma curta novela, digamos, erótica, encomendada por um amigo. E o "digamos" se deve à destreza de Llosa em optar por trocar imagens explícitas por referências elegantes e, por isso, muito mais instigantes. O livro é um misto de clichês desconstruídos e (típico de Llosa) inserções de arte. A história principal é intercalada por capítulos que são mini-contos sobre pinturas clássicas que têm a ver com as etapas do enredo, com direito a imagens dos quadros. Tudo se desenrola em torno da relação pai-filho-madrasta, mas com inversão do senso comum destes tipos, e ênfase na na parte lúdica dos desejos, em vez de focar nas ações. A madrasta não é uma bruxa, é uma linda mulher de 40 anos. O filho é louco pela madrasta. E o pai tem um ótimo relacionamento com ambos e, de nenhuma forma, é ausente com a esposa. Na relação de (pseudo) incesto entre a madrasta e o menino, a vítima é a mulher, e não a inocente criança. E é no menino Fonchito que a alusão à outras culturas é clara: ele é loiro, olhos azuis, cabelos cacheados, como o próprio Eros, deus do Amor, filho do deus da Guerra e da deusa da Beleza. A madrasta, então, é só uma simples mortal acuada pela força superior divina.

Mario Vargas Llosa conseguiu transformar o que poderia ser uma pornochanchada numa divertida história onde a única coisa realmente explícita é a beleza da arte.

  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

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