A BieNada e a minha previsão
Em 2008, 40 pichadores invadiram a Bienal (que eu chamo carinhosamente BieNada), e fizeram o que eles chamam de arte-protesto-manifesto... enfim, picharam. À época, escrevi:
Há um andar inteiramente vazio na Bienal de São Paulo. Os curadores inventaram uma teoria mirabolante, mas na verdade faltou grana pra encher todo o prédio. Na abertura, um grupo pichou a área vazia e quebrou alguns vidros. Realmente, um absurdo! Não pode chegar na Bienal e fazer isso assim, de repente. Antes, tem que escrever um não-manifesto-anti-conceito explicando que a intervenção-performática é a neo-construção-da-arte-pela-desconstrução-do-vazio. Aí, sim. Se fizessem isso, além de chamados para as próximas exposições, poderiam pedir um patrocínio do Ministério da Cultura.
E agora, o que aconteceu?! Os pichadores criaram uma bobajada teórica e foram chamados a expor! Acertei na mosca! Um dos intelectuais dessa neo-arte filosofou o seguinte:
“O conceito de arte é distorcido. Só é arte o que é bonito ou autorizado. A arte do ‘pixo’ é libertária, anárquica. Os muros e portões para fora da casa são públicos. A gente vê beleza no que faz. Tudo é privado e somos obrigados a engolir propaganda de consumo e política. Pichação é linguagem também.”
Não vou me estender, é só uma análise rápida:
1- Primeiro ele diz que o conceito de arte é distorcido por se basear em beleza. Logo depois ele justifica sua suposta arte dizendo que vê beleza no que faz.
2- Ele fala que o tal "pixo" é anárquico, mas faz questão de dizer que muros "para fora da casa" são públicos! Independente da complexidade desta nova teoria sobre propriedade privada e espaço urbano, ele se faz de vítima argumentando que tudo é privado, e que (não sei o que uma conjunção aditiva faz entre estas coisas) somos obrigados a engolir propaganda de consumo, seja lá o que isso signifique. Ou seja, como tudo é privado, ele é anárquico invadindo o público! Que coisa...
3- Quanto àa pichação ser linguagem... bom, acho que a foto aí em cima, do evento de 2008, mostra o quanto o pessoal sabe de linguagem. Sabem tanto que até inventaram uma língua própria, que difere um pouco da língua portuguesa...
Enfim, uma pessoa com essa capacidade de organizar idéias só poderia produzir o tal do "pixo". E, para os que se dizem admiradores da arte contemporânea, deixo uma pergunta: Se você vir o tal artista fazendo uma intervenção urbana anárquica no muro de sua casa, você chama a polícia ou convida ele pra tomar um café como agradecimento pela obra?!