Tiririca, Sartre e a clareza das leis
Sem dúvida, a grande figura dessas eleições é Tiririca, candidato a deputado federal, e que usa como argumento irrefutável o "pior que tá num fica". Tem gente que acha a candidatura dele um absurdo porque ele faz chacota do processo eleitoral e possui baixa escolaridade. Bom, tem gente que ocupa cargo muito mais importante, faz pouco caso da lei eleitoral constantemente, e adora dizer que não estudou, e nem por isso é criticado... enfim, isso é outro assunto. Um promotor de São Paulo quer impugnar a candidatura de Tiririca com base no art. 242 do Código Eleitoral, que diz: "A propaganda, qualquer que seja a sua forma ou modalidade, mencionará sempre a legenda partidária e só poderá ser feita em língua nacional, não devendo empregar meios publicitários destinados a criar, artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocionais ou passionais". Vamos analisar os tais estados emocionais e passionais. Sartre, no seu Esboço para uma teoria das emoções, disse que "a emoção é um fenômeno de crença". E, a partir disso, "a consciência precipita-se no mundo da emoção [...] e transforma seu corpo, como totalidade sintética, de modo que ela possa viver e apreender esse mundo novo através dele". Então, quando um candidato mostra o depoimento dos filhos, esposa, mãe, papagaio, não está apelando à emoção do eleitor? Ele não quer que o eleitor creia na sua boa-fé e se emocione junto com os depoentes? Isso não é "criar, artificialmente, estados emocionais"? Num video recente (veja abaixo), Tiririca ironiza - de maneira genial - justamente essa banalização do uso das emoções pelos candidatos dizendo: "Tive que apelar, tive que trazer minha família. Todo mundo está mostrando sua família. As pessoas se comovem com família na televisão".
Quanto aos estados mentais... bem, sinceramente, eu não faço a mínima idéia do que vem a ser esse troço de criar estados mentais artificialmente. Por acaso alguém não está em algum estado mental neste momento?! Quer dizer que as propagandas devem gerar estados não-mentais?! Bem, vendo deste ponto, Tiririca, realmente, está contra a lei. Afinal, ele foi o único que nos fez pensar na importância do processo eleitoral democrático.