quarta-feira, 3 de abril de 2013

O passeio diurno da van, e a barbárie sem limites



A psicopatia é um distúrbio angustiante. Saber que há pessoas propensas a cometer atos os mais cruéis, com a naturalidade de quem quem bebe um copo d'água, causa uma apreensão por revelar o mal que habita as entranhas do ser humano. Algumas características marcantes dos psicopatas são a ausência de culpa e a total falta de empatia com o próximo, ou seja, para ele o outro é apenas um objeto que serve para satisfazer seus desejos, independente quais sejam essas vontades e os métodos utilizados para tal. Como diz uma ótima matéria da revista Superinteressante Especial 267, "[o psicopata] não liga para a dor sentida pelas vítimas. Usa a violência para satisfazer uma necessidade imediata, como o sexo. E, depois do ato, costuma sentir indiferença, prazer ou poder em vez de remorso".

Isso foi o que houve naquelas horas de horror. Os animais sabiam que ali estavam seres humanos, mas não julgavam que o direito deles serem humanos era maior do que seus desejos tortos. Naquele momento, o casal foi desumanizado, rebaixado á condição de coisa, objetos sem importância submissos à vontade dos bandidos. Durante seis horas, dois seres humanos foram transformados em peças de uma brincadeira macabra. Ela, um objeto para satisfazer os instintos sexuais mais grotescos. Ele, um objeto para testemunhar  o poder de oprimir.  Findada a "festa", foram jogados fora em qualquer lugar. Talvez as embalagens vazias de bebidas tivessem merecido maior cuidado ao serem descartadas.

Como não há culpa, os psicopatas não se importam em acobertar seus atos. Seguem a vida normalmente. E, presos, confessam sem maiores preocupações. Como definiu o psiquiatra argentino Luis Alberto Kvitko, "o psicopata tem uma falha de consciência moral. Faz o que quer sem se importar com as consequências". Provavelmente, esses animais, após descartarem o casal, despediram-se como fazem os amigos após um jogo de futebol, comentaram de marcar a próxima, foram para suas casas, banho, procurar algo na geladeira, ligar a TV, ver os gols da rodada...

Em Passeio Noturno I e II, de Rubem Fonseca, um cara aparentemente normal pega seu carro para dar um volta e "relaxar" após um dia de trabalho chato como o de sempre. Mas, o prazer era ver o sofrimento das pessoas após serem atropeladas cruelmente por ele: "Ainda deu pra ver que o corpo todo desengonçado da mulher havia ido parar, colorido de sangue, em cima de um muro, desses baixinhos de casas de subúrbio". São contos que tratam desse prazer macabro pelo sofrimento alehio. Como vários contoss de Fonseca, ex-delegado, são perturbadores por irem no limite da perversidade humana. 

Mas, enquanto a ficção de Rubem Fonseca tangenciava o limite da crueldade, a realidade dá um passo à frente, nos arrebata e mostra que podemos ser muito piores do que supomos... Infelizmente...

  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

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