quarta-feira, 10 de abril de 2013

Feliciano e o mafioso Deus-Pai, o Godfather



Não acredito em religiões. Nenhuma delas. Mesmo na hipótese remota da existência de Deus, religiões são apenas invenções humanas para tentar rotular algo que, por definição, não é cabível de entendimento pleno pelo homem. Como disse Ferreira Gullar "o homem inventou Deus para que Deus o criasse". Ao adjetivar Deus de misericordioso, justo, fiel (nunca entendi o que significa Deus é fiel), o homem reduz a Condição Divina infinita à condição humana restrita. Então, mesmo que haja Deus, isso não significa que alguém tenha procuração para falar em nome Dele ou saiba seus desejos. 

Em The Godfather II, é contada a história de como Vito Corleone se tornou o poderoso chefão. No início do século passado, em uma Nova York cheia de imigrantes italianos, Vito assume o comando do bairro após matar o chefão da área. Assim, impõe a regra de que todos podem voluntariamente contribuir com seus negócios. E, quem não quiser pagar, sofrerá as consequências pela inadimplência. Em paralelo, segue a história de Michael Corleone, filho de Vito e novo chefe da família após a morte do pai. Em uma cena, um capanga de Michael, antes de tentar matar um desafeto tido como traidor, diz: "Michael Corleone manda lembranças". 

Marco Feliciano é, sem dúvidas, o idiota mais popular do momento. E, quando a gente pensa que seu estoque de aberrações chegou ao fim, eis que o Youtube nos mostra que sempre se pode ser mais imbecil. Feliciano já sugeriu ter Caetano pacto com o diabo por mostrar músicas pra "Mãe Menininha do Patuá" (sic) e já lançou a teoria do povo amaldiçoado por Noé, tudo naquele jeito estérico-delirante. Mas, duas passagens são, pra mim, mais representativas dessa modalidade religiosa. Chateado com um fiel que deixou o cartão mas não a senha, o pastor dissse: "depois vai pedir o milgare pra Deus, Deus não vai dar, vai dizer que Deus é ruim". Em outro momento iluminado, numa fase pré-chapinha, Feliciano decidiu teorizar sobre o assassinato de John Lennon com aquele ar típico dos ignorantes que se acham portadores da Verdade. Depois de explicar porque Lennon era coligado do capeta e merecia levar três tiros, fez a singela confissão: "Eu queria estar lá no dia em que descobriram o corpo dele. Ia tirar o pano de cima e ia dizer 'me perdoe, John, mas esse primeiro tiro é em nome do Pai, esse é em nome do Filho, e esse é em nome do Espírito Santo'". E termina gritando que "ninguém afronta Deus e sobrevive para debochar!" 

Assim como os Corleone, o Deus de Feliciano é um mafioso que acolhe quem lhe paga, e assassina quem decide questioná-lo. Um Deus que exige submissão dos coagidos, e que faz questão de usar a brutalidade como um método de adestramento do rebanho. E o pastor é, apenas, o capanga que manda lembranças antes de executar o infiel. 

Para Feliciano, o Deus-Pai é o Godfather. Só que sem o charme de um Corleone...

  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

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