segunda-feira, 11 de julho de 2011

Jim Morrison e a Jornada do Herói

James Douglas Morrison, ou apenas Jim, foi, pra mim, o maior rockstar da história. Conjugou música, presença de palco, e uma mística pessoal que, juntos, criaram o mito. Após 40 anos de sua morte (será mesmo?!), o fascínio em torno dele permanece. Jim tornou-se eterno porque sua vida trilhou caminho semelhante à Jornada do Herói, a estrutura narrativa mais presente em todas as histórias de sucesso.

O americano Joseph Campbell foi um dos maiores especialistas em mitologia do mundo. Fascinado pela histórias dos grandes heróis mitológicos, comparou a trajetória dos deuses religiosos e fábulas antigas para criar o que chamou de "A Jornada do Herói", exposta no livro "O herói de mil faces". Essa jornada seria um roteiro de vida comum a todos os mitos e heróis, de Jesus Cristo a Luke Skywalker. Por sinal, Campbell foi, apenas, consultor de George Lucas para a criação da saga "Star Wars"! E os seus estudos são a base para a criação de diversos roteiros, de "Matrix" a "Um Tira da Pesada". A Jornada do Herói tem 12 etapas. Abaixo, falarei de cada etapa dando como exemplo a vida de Jim Morrison.

1. O Mundo Comum - A maioria das histórias começa apresentando o cotidiano do herói, que depois será abalado. Jim era um tímido estudante de cinema na Califórnia, com uma vida universitária bem comum.
2. Chamado à aventura - É quando algo acontece chamando o herói a sair do seu mundo. Ray, que viria a ser o tecladista do The Doors, lê os poemas de Jim e sugere montarem uma banda
3. Recusa do Chamado - É o momento de hesitação do herói, quando ele tem que superar seus medos para ir à aventura. Jim fica relutante em expor suas letras, e não se sente confiante porque nunca havia cantado antes. Nos primeiros shows, cantava de costas para a plateia.
4. Encontro com o mentor - O mentor é o personagem que prepara o herói para enfrentar a aventura. Jim dizia que, aos 5 anos, viu índios mortos numa estrada do Novo México. E, naquele momento, o espírito de um xamã entrou em seu corpo. De repente, Jim começa a usar essa história como um sinal, um estímulo.
5. Travessia do Primeiro Limiar - Neste momento, o herói começa a aventura. Jim perde o medo, suas performances no palco viram rituais, e ele tem total controle da plateia.
6. Testes, aliados, inimigos - É quando o herói aprende as regras do Mundo Especial e percebe quem são os aliados e quem são os inimigos. A banda está unida, e eles aprendem como lidar com a imprensa e o assédio.
7. Aproximação da Caverna Oculta - Neste ponto, o herói encara a fronteira de um lugar perigoso e crucial na aventura. Jim vira um astro do rock, cultuado pela crítica e adorado pelo público. Mas o clima de transgressão que ele prega começa a gerar um desconforto nas autoridades.
8. Provação - É a parte em que a vida do herói está em jogo. É aquela hora do filme que o herói só tem a opção de morrer ou de ir pro lado negro. Jim foi preso, injustamente, acusado de atentado ao pudor. Depois disso, começou a ser perseguido por várias autoridades. No meio desse caos, o disco Soft Parade é mal recebido pela crítca. Será o fim?
9. Recompensa - Após sobreviver, o herói finalmente consegue pegar o tesouro. Passada a turbulência, o The Doors lança o aclamado Morrison Hotel, volta ao topo das paradas, e constrói uma legião de fãs ainda mais fiel.
10. Caminho de Volta - É o início do terceiro ato do roteiro. Quando tudo parece tranquilo, eis que surge o problema final. É aquela perseguição surpresa no final do filme. Jim é condenado a oito meses de trabalhos forçados..
11. Ressurreição - De novo, parece que o herói morreu, mas ele sempre consegue se livrar e voltar ainda mais forte. Jim é solto sob fiança e começa a gravar o excelente L.A. Woman.
12. Retorno com o Elixir - É quando o herói retorna ao mundo comum trazendo consigo o tesouro ou um ensinamento especial. Jim decide dar um tempo na música, viver como uma pessoa comum, voltar a escrever poemas e roteiros, e muda-se para Paris com a namorada Pamela.

E, além disso, Jim ainda teve um final enigmático, comum apenas aos melhores roteiros e aos grandes mitos. Morreu de repente, poucos viram o corpo, o laudo oficial sobre a causa da morte é vago e impreciso, e os depoimentos sobre seus últimos dias ainda hoje são controversos. É o típico final que pode dar margem a uma continuação. E isso só serve para deixar o herói sempre vivo.

E Jim falava que gostaria de fazer como Rimbaud, abandonando a carreira no auge para viver anônimo em algum lugar remoto. Alguém conhece um traficante de armas no Marrocos?!

  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

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