segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O pagode do herói doido, Tom Wolfe e Chico Buarque

A banda de pagode LevaNóiz (é assim mesmo que escreve, acreditem) é destaque na edição dessa semana da revista Época. Sei lá o motivo, aparece na parte de cultura. Segundo o jornalista que escreveu a matéria, o hit "Liga da Justiça" vai dominar o verão brasileiro. E na matéria de três páginas o cara tenta justificar o inexistente.


Tom Wolfe, expoente do new journalism americano, é um crítico ferrenho. Com textos ágeis, ácidos e em linguagem informal, ficou célebre, entre outros, com livros e artigos que criticavam o deslumbramento com os delírios da arte contemporânea. No ótimo "A palavra pintada", fala de como a teoria passou a justificar a arte. Em um dos trechos, diz: "A arte se tornou inteiramente literária: as pinturas e as outras obras só existem para ilustrar o texto".

Pois o jornalista da Época resolveu escrever o texto que será ilustrado pelo LevaNóiz. Depois de chamar o pagode de "gênero maior do Carnaval baiano" (é quase Umberto Eco falando do Barroco italiano) que mistura o samba tradicional com com o "uso expressivo da percussão", ele diz que a música "Liga da Justiça" é uma mistura de cultura pop com Carnaval baiano. E, para espanto dos que se impressionaram com a complexidade do enredo, diz que "não foi um roteirista de desenho animado quem inventou a situação. Foi o compositor brasileiro J.Telles". Pois é, para quem achava que era ideia de uma equipe de roteiristas geniais da Marvel Comics e da Pixar, uma grande surpresa! E, óbvio, o genial compositor foi ouvido. Tão eloquente quanto o jornalista, disparou: "queria falar de uma coisa diferente, e o Márcio Vitor (co-autor) deu a ideia de tratar da amizade". Realmente, nunca antes na história desse país a amizade foi tratada de maneira tão original.

Pra quem teve a sorte de não ter ouvido a grande obra e está curioso, segue quase toda a letra da música:
Superman ficou fraco
O Pinguim jogou criptonita
Lex Luthor e Coringa
Roubou o laço da Mulher Maravilha
Pois é... o enredo é tão complexo que os inimigos, além de roubarem o laço da Mulher Maravilha, também roubaram o plural.

Se esses serão os heróis do verão, só resta fazer como Chico Buarque: "Chame o ladrão!".

  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

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