quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O reveillon de Sísifo e Drummond


Como contou Homero, Sísifo foi um rebelde que desafiou os deuses. Quando morreu, depois de muito aprontar, teve sua alma enviada por Zeus a Hades, deus dos mortos. E, como castigo pela desobediência aos deuses, foi condenado a carregar uma enorme pedra de mármore até o alto de uma montanha. Mas, ao colocar a pedra no topo, ela rolava até a base. Então, no dia seguinte, Sísifo recomeçava o seu trabalho absurdo. E assim ficaria para toda a eternidade.

O que os deuses fizeram com Sísifo foi tirar-lhe a esperança de um dia melhor, tirar-lhe a liberdade de escolher qual seu destino, confinando-o a uma monotonia torturante. Para Sísifo, não haveria mais reveillon, afinal todos os dias seriam sempre iguais.

A esperança da criação de uma vida diferente é o que faz o reveillon algo tão simbólico e especial. Sísifo habitou o poema de Homero. Melhor seria ter habitado o poema abaixo, de Drummond:
"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente".
FELIZ ANO NOVO

  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

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