quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Deserto


Eu tava triste, tristinho!
Mais sem graça
Que a top-model magrela na passarela
Eu tava só, sozinho!
Mais solitário, que um paulistano
Que um canastrão, na hora que cai o pano

Mas ontem eu recebi um telegrama
Era você de Aracaju ou do Alabama
Dizendo: Nêgo sinta-se feliz
Porque no mundo tem alguém que diz:
Que muito te ama!

Por isso hoje eu acordei
Com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho
E desejar bom dia
De beijar o português
Da padaria...
Zeca Baleiro

O livro "O Deserto dos Tártaros" é uma obra gigantesca condensada em pouco mais de 200 páginas. Nele, é contada a vida do militar Giovanni Drogo. Drogo sempre sonhou em ser militar. E, mais do que isso, sempre sonhou em alcançar a glória na sua carreira. Mandado como oficial ao forte que vigia o Deserto dos Tártaros, Drogo viu ali sua grande oportunidade. Afinal, quando os tártaros chegassem para a guerra, ele os enfrentaria e se tornaria um grande herói. Mas o tempo passa. E os tártaros não vêm. E Drogo segue esperando pela guerra inexistente sem perceber que sua vida está passando tão vazia quanto o deserto que ele contempla diariamente. Após 30 anos, o já major Drogo percebe que os inimigos do passado não vão voltar. Nem os anos que ele perdeu...
"Drogo entendeu que transcorrera uma geração inteira, [...] que ele já ultrapassar o cume da vida para o lado dos velhos [...] sem ter feito na de bom, sem filhos, realmente só no mundo. Um nó apertava o coração de Drogo: adeus, sonhos de um tempo distante, adeus, coisas belas da vida."
Quem dera um telegrama avisasse o major da chegada dos inimigos, ou anunciasse um amor além dos muros. Mas Drogo esperou o seu destino trancado no forte. Deveria ter ido à padaria. Poderia ter sido ele a ganhar um beijo...

  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

Voltar ao TOPO