quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Os ovos de Dilma ou a lingerie de Gisele?


A Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) encrencou com a propaganda da Hope com Gisele Bündchen. Nela, Gisele ensina truques de sedução para as mulheres extraírem agrados com mais facilidades de seus cônjuges. A secretaria viu nisso uma exaltação da exploração-machista-dominante que rebaixa as mulheres a uma condição submissa. Ufa! Mais um pouco e aparecia o imperialismo yankee e o neoliberalismo na história. E, para mostrar que a voz do povo é a voz no que deu, a secretaria disse que recebeu seis reclamações de pessoas “indignadas” com a propaganda... Isso mesmo: seis criaturas. Não sei qual a média de reclamações por propaganda (e isso é tão besta que tenho preguiça de pesquisar), mas acredito que muitas propagandas do governo geram mais reclamações. Aquelas propagandas ridículas da Dolly, então, devem ser trending topics da ouvidoria!

O governo atual, desde sempre, tentou criar essa besteirada de uma gestão mais humana porque feminina. Tudo que se faz tem aquele papo de a primeira "presidenta", a primeira mulher a chefiar sei-lá-o-quê, e blá, blá, blá. Seria uma maneira de mostrar que as mulheres podem tanto quanto os homens. Na minha opinião, só o fato de fazer tanto alarde por igualdade já é um sinal de crer numa desigualdade. Qualquer excesso de afirmação esconde a crença no desigual. Eu não voto em alguém porque é mulher, homem, negro, branco, casado, solteiro, canhoto ou destro. Eu voto em quem tem ideias que me agradam e julgo capaz de efetivá-las.

Curiosamente, esse mesmo governo que classificou a propaganda de Gisele como uma exaltação ao esteriótipo da mulher objeto fez questão de criar o esteriótipo da dona de casa para a "presidenta". Afinal, pensaram, uma mulher que não sabe nem fritar um ovo não serve pra casar. E, se não serve pra casar, como pode governar? Decidiram, então, que a "presidenta" deveria mostrar todas as suas prendas do lar para, assim, convencer a todos que é mulher de verdade. Os ovos de Dilma, então, viraram uma tara. Fez-se omelete no programa de Luciana Gimenez, em Ana Maria Braga e ainda teve comentários sobre o prato na entrevista concedida a Patrícia Poeta. Mas, acreditar que uma mulher só é uma mulher se souber cozinhar não é rebaixá-la a uma condição submisssa e esteriotipada? Mulheres que não sabem nem fazer pipoca não podem ser competentes para ocupar cargos de alto escalão? Quer dizer que a mulher só pode sair de casa depois que estiver prendada o suficiente?

O que as burocratas da secretaria não entenderam é que a propaganda de Gisele ironizava justamente os homens. O que se diz na peça é que os homens são tão bestas que basta um truque para tê-los completamente sob domínio. Os homens seriam, então, os dominados, enquanto as mulheres, sagazes e cientes de suas armas, conquistam o que desejam sem grandes esforços.

Para ser mais feminina, Dilma mostrou os ovos, e se deu mal. Gisele, muito mais esperta, exibiu a lingerie, se deu bem, e ficou mais mulher.

  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

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