quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O mineiro e a liberdade encarcerada

Do G1: Susana Valenzuela abraça Yonni Barrios após resgate nesta quarta (13). (Foto: Governo do Chile/Divulgação)

O mundo parou para acompanhar o resgate dos mineiros no Chile. Com direito, até, a transmissão ao vivo durante 24 horas o que, pra mim, foi um exagero. Mas isso é outra conversa... Imaginemos o seguinte: como você reagiria ao ser resgatado de uma caverna após 70 dias? Acredito que todos pensem em modos diversos de comemoração, pautados por um misto de felicidade e alívio sem tamanho. Mas, no meio de toda aquela exaltação da liberdade, eis que surgiu o sentimento mais inesperado: o constrangimento. Obviamente, as famílias esperavam ansiosas os mineiros, unidas por um sentimento comum. Porém, no meio delas, havia uma que não comungava a mesma sensação. Um dos mineiros se deparou com a insólita situação de ter à sua espera a mulher e a amante. Resgatado, sem saber ao certo quem o receberia, deparou-se com a amante, que lhe deu um amoroso beijo retribuído com um abraço envergonhado, tímido, constrangido... Após 70 dias preso, o mineiro deparou-se com a liberdade de ser ele mesmo. Sartre disse que "cada pessoa é uma escolha absoluta de si". Isso seria a liberdade de ser. Mas, ao expor ao mundo as suas escolhas, o mineiro envergonhou-se, demonstrando que aquilo não o tornava livre, mas, ao contrário, o aprisionava em uma situação desconfortável.
Em "Gaia Ciência", Nietzsche escreveu:

"Qual é a marca da liberdade realizada? Não ter mais vergonha de si mesmo".

Após 70 dias, o mineiro percebeu que a liberdade pode ser vivida dentro de uma caverna há 700 metros de profundidade...

  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

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