quinta-feira, 22 de julho de 2010

A viúva e as garrafas de Louis


"Mergulhadores encontraram no mar Báltico o que pode ser a caixa de champanhe que ainda pode ser consumido mais antiga do mundo. As garrafas teriam sido produzidas pela Clicquot (agora chamada de Veuve Clicquot) entre 1782 e 1788. Pode ser uma remessa de champanhe enviada pelo rei Luís XVI, da França, para a imperatriz russa, Catarina, a Grande, por volta de 1780". Da BBC, no G1.

""Há uma âncora na rolha e (Moët & Chandon) me disse que é a única a ter utilizado esse emblema", explicou Christian Ekström, chefe dos mergulhadores. "Segundo nossos arquivos, a garrafa é dos anos 1780. Veuve Clicquot iniciou sua produção em 1772 e as primeiras colheitas foram fermentadas durante dez anos, então não deve ser de antes de 1782. Também não pode ter sido depois de 1788-1789, quando a Revolução Francesa paralisou a produção", declarou". Da AFP, no R7.

Pois é, os textos acima são de duas grandes agências internacionais. Mas discordo de muitas coisas. Vamos lá.

Sobre o nome:
A BBC diz que "agora" a empresa se chama Veuve Clicquot, e a AFP diz que a Veuve Clicquot começou em 1772. Na verdade, começou como Clicquot, passou para Clicquot-Muiron, depois Veuve Clicquot Fourneaux e em 1810, finalmente, Veuve Clicquot Ponsardin.

Datas das garrafas:
Dizer que "as primeiras colheitas foram fermentadas durante dez anos, então não deve ser de antes de 1782" é errado. Em 1777 a Clicquot vendia 10 mil garrafas por ano. O argumento "também não pode ter sido depois de 1788-1789, quando a Revolução Francesa paralisou a produção" é patética. Parece até que nada foi produzido depois desta data. A mais famosa safra, por sinal, é a de 1811.

A rolha:
Quanto à âncora na rolha, ela só passou ser utilizada em 1798, quando Barbie-Nicole Ponsardin se casou com François Clicquot, de quem ficaria viúva sete anos depois, tornando-se a viúva Clicquot, ou veuve Clicquot em francês. Na época, a empresa se chamava Clicquot-Muiron.

A Rússia:
O mercado russo sempre foi um desejo da viúva Clicquot. A Veuve Clicquot Fourneaux começou a vender para a Rússia em 1804, de uma maneira meio ilegal devido aos embargos comerciais da época. Mas ela só conseguiu se consolidar neste mercado em 1813-14, quando conseguiu distribuir lá sua famosa safra de 1811.

O Louis:
Quanto à caixa encontarada ser de Louis... deve ser mesmo. Mas não de Louis XVI, e sim de Louis Bohne, o representante comercial que introduziu o Clicquot na Rússia. Isto porque uma das rotas utilizadas era a Escandinávia. E muitas cargas foram perdidas nessa rota.

Conclusão:
Portanto, acho que a garrafa deve ser de um período entre 1804 e 1814. E, quem sabe, seja da famosa safra de 1811.

Obs.: Não entendo de vinhos nem gosto muito de champanhe. Apenas li A Viúva Clicquot, de Tilar J. Mazzeo e outras coisas avulsas. Prefiro cerveja mesmo.

  © Blog 'Croquis' Bahia Vitrine 2009

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