tag:blogger.com,1999:blog-22838649067645354312024-03-13T11:53:49.224-03:00Bahia Vitrine - Blog de CulturaLiteratura, Arte, Cinema, Arquitetura...Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/00368576915801608140noreply@blogger.comBlogger131125tag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-81744676781520228652013-04-10T00:40:00.001-03:002013-04-10T11:20:19.177-03:00Feliciano e o mafioso Deus-Pai, o Godfather<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGtdfQJZA_8K1aFlDnr0xZFEHhyphenhyphenIFvo68vv3VafGsJTZsta_iEoC6YKGPhoDL9QabPMgAW9G2Xg59aWMVp_AbVxhrYRkstpnhiUT3trfWlFY5TwA8NFXoYzTOvq65imgznd_Pgulq0onA/s1600/feliciano-godfather.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="261" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGtdfQJZA_8K1aFlDnr0xZFEHhyphenhyphenIFvo68vv3VafGsJTZsta_iEoC6YKGPhoDL9QabPMgAW9G2Xg59aWMVp_AbVxhrYRkstpnhiUT3trfWlFY5TwA8NFXoYzTOvq65imgznd_Pgulq0onA/s320/feliciano-godfather.jpg" width="580" /></a></div>
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Não acredito em religiões. Nenhuma delas. Mesmo na hipótese remota da existência de Deus, religiões são apenas invenções humanas para tentar rotular algo que, por definição, não é cabível de entendimento pleno pelo homem. Como disse Ferreira Gullar "o homem inventou Deus para que Deus o criasse". Ao adjetivar Deus de misericordioso, justo, fiel (nunca entendi o que significa Deus é fiel), o homem reduz a Condição Divina infinita à condição humana restrita. Então, mesmo que haja Deus, isso não significa que alguém tenha procuração para falar em nome Dele ou saiba seus desejos. </div>
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Em The Godfather II, é contada a história de como Vito Corleone se tornou o poderoso chefão. No início do século passado, em uma Nova York cheia de imigrantes italianos, Vito assume o comando do bairro após matar o chefão da área. Assim, impõe a regra de que todos podem voluntariamente contribuir com seus negócios. E, quem não quiser pagar, sofrerá as consequências pela inadimplência. Em paralelo, segue a história de Michael Corleone, filho de Vito e novo chefe da família após a morte do pai. Em uma cena, um capanga de Michael, antes de tentar matar um desafeto tido como traidor, diz: "Michael Corleone manda lembranças". </div>
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Marco Feliciano é, sem dúvidas, o idiota mais popular do momento. E, quando a gente pensa que seu estoque de aberrações chegou ao fim, eis que o Youtube nos mostra que sempre se pode ser mais imbecil. Feliciano já sugeriu ter Caetano pacto com o diabo por mostrar músicas pra "Mãe Menininha do Patuá" (sic) e já lançou a teoria do povo amaldiçoado por Noé, tudo naquele jeito estérico-delirante. Mas, duas passagens são, pra mim, mais representativas dessa modalidade religiosa. Chateado com um fiel que deixou o cartão mas não a senha, o pastor dissse: "depois vai pedir o milgare pra Deus, Deus não vai dar, vai dizer que Deus é ruim". Em outro momento iluminado, numa fase pré-chapinha, Feliciano decidiu teorizar sobre o assassinato de John Lennon com aquele ar típico dos ignorantes que se acham portadores da Verdade. Depois de explicar porque Lennon era coligado do capeta e merecia levar três tiros, fez a singela confissão: "Eu queria estar lá no dia em que descobriram o corpo dele. Ia tirar o pano de cima e ia dizer 'me perdoe, John, mas esse primeiro tiro é em nome do Pai, esse é em nome do Filho, e esse é em nome do Espírito Santo'". E termina gritando que "ninguém afronta Deus e sobrevive para debochar!" </div>
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Assim como os Corleone, o Deus de Feliciano é um mafioso que acolhe quem lhe paga, e assassina quem decide questioná-lo. Um Deus que exige submissão dos coagidos, e que faz questão de usar a brutalidade como um método de adestramento do rebanho. E o pastor é, apenas, o capanga que manda lembranças antes de executar o infiel. </div>
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Para Feliciano, o Deus-Pai é o Godfather. Só que sem o charme de um Corleone...</div>
Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/12465291289002609609noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-5415486955194467022013-04-03T15:09:00.002-03:002013-04-03T15:12:30.155-03:00O passeio diurno da van, e a barbárie sem limites<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMj4eXLJCIfxpijT3oCvGPhP8KOC2S-ISeNcoRfn4AlbfrMbvqHYbNDdslVfMQzOMe1jhILkkTcTJWP490oq2SGiVmSSABAAGu78busyAAuvhn0dzq_5TZgle13dc2rOssvmPIu8OSue8/s1600/evil-mind.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="351" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMj4eXLJCIfxpijT3oCvGPhP8KOC2S-ISeNcoRfn4AlbfrMbvqHYbNDdslVfMQzOMe1jhILkkTcTJWP490oq2SGiVmSSABAAGu78busyAAuvhn0dzq_5TZgle13dc2rOssvmPIu8OSue8/s320/evil-mind.jpg" width="580" /></a></div>
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A psicopatia é um distúrbio angustiante. Saber que há pessoas propensas a cometer atos os mais cruéis, com a naturalidade de quem quem bebe um copo d'água, causa uma apreensão por revelar o mal que habita as entranhas do ser humano. Algumas características marcantes dos psicopatas são a ausência de culpa e a total falta de empatia com o próximo, ou seja, para ele o outro é apenas um objeto que serve para satisfazer seus desejos, independente quais sejam essas vontades e os métodos utilizados para tal. Como diz uma ótima matéria da revista Superinteressante Especial 267, "[o psicopata] não liga para a dor sentida pelas vítimas. Usa a violência para satisfazer uma necessidade imediata, como o sexo. E, depois do ato, costuma sentir indiferença, prazer ou poder em vez de remorso".
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Isso foi o que houve naquelas horas de horror. Os animais sabiam que ali estavam seres humanos, mas não julgavam que o direito deles serem humanos era maior do que seus desejos tortos. Naquele momento, o casal foi desumanizado, rebaixado á condição de coisa, objetos sem importância submissos à vontade dos bandidos. Durante seis horas, dois seres humanos foram transformados em peças de uma brincadeira macabra. Ela, um objeto para satisfazer os instintos sexuais mais grotescos. Ele, um objeto para testemunhar o poder de oprimir. Findada a "festa", foram jogados fora em qualquer lugar. Talvez as embalagens vazias de bebidas tivessem merecido maior cuidado ao serem descartadas.<br />
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Como não há culpa, os psicopatas não se importam em acobertar seus atos. Seguem a vida normalmente. E, presos, confessam sem maiores preocupações. Como definiu o psiquiatra argentino Luis Alberto Kvitko, "o psicopata tem uma falha de consciência moral. Faz o que quer sem se importar com as consequências". Provavelmente, esses animais, após descartarem o casal, despediram-se como fazem os amigos após um jogo de futebol, comentaram de marcar a próxima, foram para suas casas, banho, procurar algo na geladeira, ligar a TV, ver os gols da rodada...</div>
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Em Passeio Noturno I e II, de Rubem Fonseca, um cara aparentemente normal pega seu carro para dar um volta e "relaxar" após um dia de trabalho chato como o de sempre. Mas, o prazer era ver o sofrimento das pessoas após serem atropeladas cruelmente por ele: "Ainda deu pra ver que o corpo todo desengonçado da mulher havia ido parar, colorido de sangue, em cima de um muro, desses baixinhos de casas de subúrbio". São contos que tratam desse prazer macabro pelo sofrimento alehio. Como vários contoss de Fonseca, ex-delegado, são perturbadores por irem no limite da perversidade humana. </div>
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Mas, enquanto a ficção de Rubem Fonseca tangenciava o limite da crueldade, a realidade dá um passo à frente, nos arrebata e mostra que podemos ser muito piores do que supomos... Infelizmente...</div>
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Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/12465291289002609609noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-26491234701883167602013-02-05T13:13:00.004-03:002013-02-05T13:13:42.607-03:00O Povo que compartilha e o que não disse Jabor<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgz_phbSz29ryKCha65ERMCC4yWR5zbVMiZM7S70R96Qwxv4DTuG3b2I9nVNAHP8QTH9_2YMYvZF7ydX5DOZYn0EHistvv228q9IwVjvzq12h4em62vtXh3b3tawC2qh5J4Xxl3GCbjaaA/s1600/jabor.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgz_phbSz29ryKCha65ERMCC4yWR5zbVMiZM7S70R96Qwxv4DTuG3b2I9nVNAHP8QTH9_2YMYvZF7ydX5DOZYn0EHistvv228q9IwVjvzq12h4em62vtXh3b3tawC2qh5J4Xxl3GCbjaaA/s320/jabor.jpg" width="580" /></a></div>
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Assim escreveu Jabor sobre as curvas da mulher brasileira na sua coluna trimensal no Jornal do bairo do Rio Vermelho: "E, bem disse Caio F. Abreu no seu livro de contos <i>Os Lusíadas</i>: um dia frio, um bom lugar pra ler um livro, é ela menina que vem e que passa, na lua, no sol, na luz de Tieta".<br />
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Como todos sabemos, a grande mídia é a voz do demônio que manipula o mundo pra trapacear a realidade e corromper nossos imaculados corações e mentes. Tudo isso, claro, a favor da classe dominante. Qual seria, então, o mundo ideal? Ora, um mundo onde os meios de comunicação fossem democratizados e utilizados pelo e para o povo, esse ente que detém o monopólio das virtudes humanas. A mídia seria uma espécie de Facebook, onde cada um de nós, o povo, poderia compartilhar apenas as verdades mais verdadeiras do mundo, sem manipulação. Mas, o Facebook é uma fonte de notícias com credibilidade irrefutável? Nós, o povo, nos preocupamos com a veracidade do que postamos, ou apenas passamos adiante na fé de que tudo que vem do povo é real?<br />
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Num artigo de 21/08/2012, publicado no site do jornal Estadão (<a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,um-artigo-apocrifo-por-mim-mesmo-,919503,0.htm" target="_blank">link aqui</a>), Jabor escreveu:<br />
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<i> "Toda semana surge um novo artigo apócrifo, com meu nome... Toda hora um idiota me copia e joga na rede. [...] Sou amado pelo que não escrevi. Há um site em que contei 23 artigos falsos, com meu nome."
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Alguém escreve e muitos compartilham, sem o menor interesse em saber se aquilo é verdade. Muitos dirão: mas é um erro por boa-fé. Pois é... coração puro não basta, né? Afinal, como dizem que disse alguém: "de boas intenções o inferno está cheio". Então, o que seria a democratização que nos libertaria das mentiras se torna, ironicamente, uma máquina viral de inverdades. E, o pior disso tudo, é que essas inverdades servem para distorcer justamente aquilo que supostamente gostamos, mesmo sem sabermos nada daquilo. Quem acha Jabor legal é um agente difusor das verdades que ele nunca disse. E, assim, o seu suposto autor preferido vagueia livre, leve e solto nesse boca-a-boca-telefone-sem-fio virtual.<br />
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Mas nós não temos compromisso com A Verdade. Isso é responsabilidade que devemos cobrar só da tal grande mídia.<br />
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Quem gostou, curta. Quem gostou muito, compartilhe. E cada compartilhamento vai gerar R$ 1,00 em doação pra curar o bebê doente que ficou triste depois que seu cachorro fugiu...Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/12465291289002609609noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-54698227533601336252012-12-10T23:29:00.002-03:002012-12-10T23:30:39.108-03:00Niemeyer e o mármore de Bernini<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx7qzZhwWl-3XBHeJY1DdbDSbRXHboY4gl71CMMdcqKZyZJEVdnmCKso_Ksy5t1guI_p5na9EwXaf2INbdrw9wKk018N7RATc2LgEernt_wxfNHexDrwtjH1MSHXW_Jz6JSI3bXkZcAbQ/s1600/bernini+rapto+proserpina.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="328" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx7qzZhwWl-3XBHeJY1DdbDSbRXHboY4gl71CMMdcqKZyZJEVdnmCKso_Ksy5t1guI_p5na9EwXaf2INbdrw9wKk018N7RATc2LgEernt_wxfNHexDrwtjH1MSHXW_Jz6JSI3bXkZcAbQ/s320/bernini+rapto+proserpina.jpg" width="580" /></a></div>
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Quando se fala em arquitetura moderna, logo se pensa na racionalidade das formas, ortogonais, simétricas, padronizadas, definidas pela função da arquiteura-máquina, que se despe dos ornamentos que enchiam as construções de coisa nenhuma, e se revela na crueza nua do concreto e do vidro para evidenciar, de forma sincera, do que é feito. </div>
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Mas, eis que vem Niemeyer e, como um neófito que reinventa o possível por não saber ser impossível, dobra levemente a dureza da arquitetura moderna, e faz do concreto, ornamento. A forma é trabalhada de um jeito que deixamos de perceber o concreto como ele é, deixando de ser signo para transcender e aparecer como um significado, algo novo. Parece meio confuso, mas vamos com Ferreira Gullar que vai ficar mais claro. </div>
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Ferreira Gullar, sempre genial, escreveu: "A realidade material do signo está quase sempre oculta pelo significado. Por exemplo, na <i>Ressurreição</i>, de Pietro della Francesca, percebemos o Cristo como Cristo, mas também como uma imagem que possui determinadas características. advindas da superfície onde ela está pintada: luminosidade, lisura, transparência, etc. É certo que, quanto mais me atenho ao que o signo sgnifica, menos distingo o que nele é especificamente material". Ou seja, quanto mais vemos em uma escultura o que ela representa, menos percebemos a pedra de que ela é feita. Gullar avança mais e diz: "quando o pintor imita à perfeição um braço, de tal modo que nenhum traço do pincel se percebe ali, ele apaga o seu próprio fazer e apresenta o que pintou como uma aparição, um milagre". </div>
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Bernini foi um escultor genial. Não vou me estender na biografia dele, fica pra outro texto. Na impressionante escultura <i>O Rapto de Proserpina</i>, Bernini alcançou tal perfeição nos detalhes das mãos que seguram o corpo que deixamos de ver ali o mármore duro e imóvel, para vermos o toque leve na pele macia. O mármore, então, perdeu sua condição de signo, e se desvelou como o próprio significado. A alquimia da forma, transmutando mármore em carne </div>
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E, assim, Niemeyer transformou o concreto da arquitetura moderna no mármore de Bernini.</div>
Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/12465291289002609609noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-88123805970879279192012-10-28T22:07:00.006-03:002012-10-29T10:33:43.532-03:00O novo prefeito, Batman e o mito do herói.<div style="text-align: right;">
"Toma-se um homem </div>
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Feito de nada como nós </div>
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Em tamanho natural" </div>
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Receita Para Se Fazer Um Herói </div>
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Ira!
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1CLRoM3WreuG8oer8zL4WST_0jj4AYsS2n-N-D-SSd-HYXqStd04zXRlDDAAjIkBEVqo-5oppZOVcrmlpnUwhaBm5LjwPO3hqa_dASP0PcwQE_T8z7fg2g8qNDK0qRRGSZrcnpkkyBiE/s1600/harvey+dent.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="184" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1CLRoM3WreuG8oer8zL4WST_0jj4AYsS2n-N-D-SSd-HYXqStd04zXRlDDAAjIkBEVqo-5oppZOVcrmlpnUwhaBm5LjwPO3hqa_dASP0PcwQE_T8z7fg2g8qNDK0qRRGSZrcnpkkyBiE/s400/harvey+dent.jpg" width="580" /></a></div>
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Dia de eleição. Ânimos exaltados como se fosse uma final de futebol, com todas as irracionalidades pertinentes à paixão esportiva. A escolha de um candidato deixa de ser uma análise do seu potencial administrativo, da sua capacidade de servir bem à população e das suas escolhas ideológicas, e passa a ser uma luta do Bem contra o Mal. E muitos cantam as glórias do seu candidato como ele fosse a encarnação do Bem que nos livrará do lado negro da força.<br />
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O homem, desde sempre, sentiu-se angustiado com os mistérios fundamentais da vida, do universo e tudo mais. E, incapaz de solucioná-los de maneira lógica, atirou-se ao mito. No desespero ante sua fraqueza e pequenez humanas, tão demasiada, restou apegar-se à ideia de que seres superiores poriam as coisas em ordem. O Mito do Herói é identificado nas mais diversas culturas, como estudou Jung, e como escreveu de forma brilhante Joseph Campbell no seu importantíssimo O Herói de Mil Faces. O Herói é um arquétipo tão assimilado por nós que Campbell definiu o que se chamou de A Jornada do Herói, um roteiro da vida do nosso salvador. Esse roteiro fez de Campbell um consultor para filmes como Star Wars, por exemplo, e seu estudo pode ser identificado em clássicos como Indiana Jones e Matrix.<br />
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No espetacular Batman - O Cavaleiro das Trevas, o cavaleiro negro de Gotham percebe que talvez seja chegada a hora de parar. E isso porque não se faz mais necessário o uso da força para combater o Mal. A ordem será restaurada por meios legais, democráticos e civilizados. Afinal, agora Gotham tem o seu cavaleiro branco, o promotor Harvey Dent. A sua atuação para acabar com o crime através da Justiça deixa a todos com a sensação de que uma nova era está por vir. Dent será, então, o novo super-herói de Gotham. Mas, há um problema: Dent é só um agente público, um funcionário do estado, e sem cinto de utilidades nem batmóvel.<br />
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Em uma cena, Dent está furioso e, fora de si, ameaça matar um criminoso, mas Batman o impede e diz: "Você é o símbolo de esperança que eu nunca pude ser. Sua luta contra o crime organizado é o primeiro raio de luz legítimo em Gotham há décadas. Se alguém visse isso, tudo estaria perdido". Ou seja, Batman diz a Dent que, para ser o herói redentor da cidade, ele não poderá ter as fraquezas humanas. Mas Harvey Dent é só uma pessoa comum. E, não à toa, o antes herói vira um vilão enlouquecido.<br />
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O prefeito eleito, seja em qual cidade, é apenas um prefeito eleito. Um funcionário indicado por nós, com suas fraquezas e limitações. Posso até acreditar que alguns sejam mais capazes de produzir resultados melhores, mas nunca desejarei que sejam o novo super-herói..<br />
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Afinal, enquanto Gotham precisar de um Batman, as coisas continuarão sombrias...Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/00368576915801608140noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-6738634754025162622012-10-08T16:36:00.001-03:002013-05-06T22:18:55.676-03:00Sobre escolhas e o Acaso da Felicidade<div style="text-align: right;">
<i style="font-weight: normal;">Ao som de João Gilberto</i></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0cTInSz4e8XlmjUnBUooYqrOnKKWFI1Nu9CuSQAmsv6HF_qmm0DO7tvYPcJu79stIWVELWtYv-C6RtKOqLIBIR3dEmBjLeZ1Qgw_9_evowjh6AlZbsItX6Uh7E1w13tdknt72sHuKUYE/s1600/20120603_151525-1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0cTInSz4e8XlmjUnBUooYqrOnKKWFI1Nu9CuSQAmsv6HF_qmm0DO7tvYPcJu79stIWVELWtYv-C6RtKOqLIBIR3dEmBjLeZ1Qgw_9_evowjh6AlZbsItX6Uh7E1w13tdknt72sHuKUYE/s320/20120603_151525-1.jpg" width="244" /></a></div>
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Ontem foi dia de eleições. Dia de escolher o caminho para algo que esperamos ser melhor. Geralmente, temos que a felicidade está na escolha, em controlarmos aquilo que virá. Mas, será?<br />
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Fiquei pensando, então, na felicidade que habita o acaso e como o imprevisível guarda em si uma sinceridade tão bela, porque descompromissada. Não foi analisada, escolhida, destrinchada... apenas foi. E lembrei de um conto de Caio Fernando Abreu, Mel & Girassóis, que fala de um cara e uma mulher tão diferentes, mas tão iguais, num encontro tão casual, e que não poderia ter sido melhor se planejado.<br />
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No texto de Caio, eles, <i>"como naquele conto de Cortázar ― encontraram-se no sétimo ou oitavo dia de bronzeado. Sétimo ou oitavo porque era mágico e justo encontrarem-se"</i>. Tudo tão ao acaso que não fazia sentido deliberarem o próximo encontro. Bastou um <i>"- Desculpe. - Não foi nada"</i>. E seguiram como se nada tivesse acontecido.<br />
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Mas, um outro encontro. Eles não mais anônimos, um <i>"- Tudo bem? - Jóia"</i>. Depois outro encontro. E os diálogos crescendo. <i>"Conversaram, no oitavo ou nono dia."</i> Naquela fase de busca de interesses iguais, após muitas citações, <i>"empatados, encontraram-se em João Gilberto, que ouviam sozinhos em seus pequenos mas bem decorados apartamentos urbanos [...] Meio idiotas, mas tão felizes, ficaram cantando O Pato..."</i><br />
<i><br /></i>
E seguiram como se quisessem muito, e ao mesmo tempo tão despretensiosos como quem espera nada. E tudo mais intenso, mesmo aparentemente sem sentido pelo envolvimento com alguém tão recente, e tão acaso. <i>"Ela achava um pouco forte estar-se exibindo assim com um homem afinal desconhecido [...], mas encostava mais e mais a bacia na bacia dele ― a pelve, a pelve"</i>.<br />
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Tempo passando, como se aquilo fosse morrer tão de repente quanto nasceu. <i>"Último dia, não havia mais tempo. Manhã seguinte, acabou: the end - sem happy? - Eu não vou me esquecer de você. Ela disse: - Nem eu [...]. Ele afastou-a um pouco, para vê-la melhor. Ela sacudiu os cabelos, olhou bem nos olhos dele [...] Estenderam as mãos um para o outro. No gesto exato de quem vai colher um fruto completamente maduro".</i><br />
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E assim fizeram o que parecia efêmero, eterno, pedindo desculpas ao <i>"acaso por chamá-lo necessidade"</i>, como naquela poeta húngara do Nobel.<br />
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E ficaram, então, com essa felicidade que nos alcança de surpresa.Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/12465291289002609609noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-73841106591064772542012-08-27T10:07:00.001-03:002012-08-27T10:09:11.029-03:00À luz das sombras de Caravaggio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKs2h9w5sn_w-qVGn5ijQjJNoSSME3zhgpt0kzz3GtHw6hXiMrwF2AbTya4u6c0updhrF3D5t3fV3xl62l-gf_y8ROf0dZaqAXy14PHifIqib96SADpacyyOhzMwTLOB_yiPCV95T0P1o/s1600/Caravaggio_-_San_Gerolamo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="420" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKs2h9w5sn_w-qVGn5ijQjJNoSSME3zhgpt0kzz3GtHw6hXiMrwF2AbTya4u6c0updhrF3D5t3fV3xl62l-gf_y8ROf0dZaqAXy14PHifIqib96SADpacyyOhzMwTLOB_yiPCV95T0P1o/s320/Caravaggio_-_San_Gerolamo.jpg" width="580" /></a></div>
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Está no Masp até 30 de setembro a exposição "Caravaggio e Seus Seguidores", que reúne obras do famoso e polêmico artista italiano e dos chamados “Caravaggescos”, pintores que deram continuidade à estética marcante de Michelangelo Merisi da Caravaggio.</div>
<br />
Caravaggio ficou célebre por alcançar a excelência no uso da técnica chiaroscuro, e por obras com temas religiosos mas retratadas de uma maneira chocantemente humana. E ainda era uma espécie de rockstar da época, beberrão, imprevisível, metido com brigas de bar e insultos a governantes. Foi preso, expulso da cidade, acusado de homicídio, perdeu tudo... Enfim, a vida dele dava um outro longo texto. Fiquemos na obra, então.<br />
<br />
Para mostrar a tensão entre o humano e o sagrado, Caravaggio utiliza o chiaroscuro, do italiano claro-escuro, para criar volumes. As telas possuem um denso fundo escuro de onde emanam as formas banhadas por uma luz intensa, dramática, que revela apenas o necessário. Esta técnica é magistralmente utilizada na tela "São Jerônimo Que Escreve", que retrata o trabalho de São Jerônimo em traduzir a Bíblia hebraica para o latim, criando uma versão mais acessível, conhecida como Vulgata, a Bíblia Definitiva. Essa tradução foi importantíssima para a expansão da Igreja Católica Romana, pois a partir dela surgiram as versões em línguas populares. Essa é a metáfora pintada por Caravaggio: um São Jerônimo que emerge das trevas e, iluminado, produz a Bíblia que deixa as obscuras línguas antigas para vir à luz pelo latim, o que, também, livrará do lado negro da força as almas daqueles que aceitarem a Palavra. Mas, contrastando com tarefa tão sagrada, está um homem que mostra sua fragilidade humana num corpo velho e frágil, cuja santidade é espreitada pela caveira da morte.<br />
<br />
Em Caravaggio, luz e sombra são elementos opostos e complementares, uma dualidade que representa essa angústia de estar vivo. Afinal, se tudo fosse luz, não haveria contorno, e tudo ficaria sem definição, sem forma, monótono e sem sentido. Do mesmo jeito seria se tudo escuro. É na tensão entre estes elementos que se revela a vida como ela é.<br />
<br />
Nossa existência se mostra, então, demasiada humana, nesse equilíbrio de extremos. O SCURO intenso, sufocante, que torna os caminhos incertos, e que nos angustia por parecer sem fim. Mas que cede, do nada, à beleza sincera da vida. Porque, de repente, CHIARO...Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/00368576915801608140noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-89904487627140847332012-08-09T14:18:00.000-03:002012-08-09T14:18:29.189-03:00Contra o Brasil: a alquimia reversa do ouro no futebol<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_1WM4LEDQGhR1slaJPOQ4xpKA-hrcF2okxNj3Nu1zkK2_FqfEyirLor4viCRXD1Imlrpk9yf1dRuqUryMNVBpmfNHtmbAGUmgX1tABDRlvWkScYBJ9t5zj1Hs9UiFZsQKYF3u2FURBvM/s1600/neymar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_1WM4LEDQGhR1slaJPOQ4xpKA-hrcF2okxNj3Nu1zkK2_FqfEyirLor4viCRXD1Imlrpk9yf1dRuqUryMNVBpmfNHtmbAGUmgX1tABDRlvWkScYBJ9t5zj1Hs9UiFZsQKYF3u2FURBvM/s320/neymar.jpg" width="580" /></a></div>
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Faz tempo que anunciam que os alquimistas estão chegando. Mas eles são tão discretos, silenciosos, e moram tão longe dos homens que continuam executando as suas regras herméticas sem dar as caras. Enquanto não chegam, resta a lenda da pedra filosofal, um troço que transmutaria metais inferiores em ouro e permitira a criação do Elixir da Juventude. Junto com o Santo Graal e a Libertadores do Corinthians, é das coisas mais procuradas pela humanidade. E, como o time paulista achou o título quando ninguém mais acreditava ser possível, abre-se a possibilidade de encontrarmos o resto.<br />
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Assim como os alquimistas, os esportistas olímpicos carregam uma aura mística. Atletas que encarnam o espírito olímpico para representar sua nação num grande evento que reúne os povos. Uma celebração de jogos, onde a vitória é tão celebrada quanto o esforço de competir. De fato, uma coisa dos deuses. E, no meio disso tudo, há futebol. E, como nós brasileiros somos os deuses do futebol, essa parte do Olimpo é nossa, certo? Errado.</div>
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No Brasil há os esportes, e o futebol. Nossa seleção é chamada apenas de A Seleção, num apelido humilde que contrasta com O Time Inglês, Os Azuis, A Esquadra Azul, A Fúria, A Laranja Mecânica. Nomes simpáticos, mas que passam londe d'A Seleção. Porém, eis que nós, deuses, nunca obtivemos o ouro do Olimpo. Tal qual alquimistas fracassados, não descobrimos a pedra filosofal. Mas, parece, esse ano levaremos o ouro. Uma pena...<br />
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Se isso acontecer, o Zeus do nosso Olimpo será Neymar, uma criatura que representa o que de pior nós podemos oferecer ao mundo. Um rapazinho chato, com ego inflado, narcisista, e que encara um jogo como um circo onde ele pode fazer suas piruetas para o delírio da plateia e a admiração dos figurantes em campo. A prova de que mais vale uma ignorância acrobática ao som de tchu-tchu-tcha-tcha do que um neurônio esforçado.<br />
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O triunfo olímpico dessa seleção será como criar uma anti-alquimia, onde o ouro se transformará num metal dos menos valiosos.<br />
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Neymar, pra mim, não merece o ouro nem na ginástica, porque depois das piruetas ele nunca para em pé. Sempre cai.<br />Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/00368576915801608140noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-46385176008076872182012-07-27T00:09:00.003-03:002012-07-27T08:29:01.210-03:00Bonsai, Ferreira Gullar, e a invenção do sentido da vida<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1wblH-nZdlO3xIO132p4UhhRjlgaIYnipIpGwU0TX9kZEJgTSvZFmFwmbcHJmDeruHb3yGQ0Rrmik0foSMBopZW8v3FWlV0u5w9dMgjPye6H99PTgI3KBWelJbD-bA_SsvlnX4YzH4tU/s1600/bonsai.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1wblH-nZdlO3xIO132p4UhhRjlgaIYnipIpGwU0TX9kZEJgTSvZFmFwmbcHJmDeruHb3yGQ0Rrmik0foSMBopZW8v3FWlV0u5w9dMgjPye6H99PTgI3KBWelJbD-bA_SsvlnX4YzH4tU/s1600/bonsai.jpg" /></a></div>
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Há pouco mais de um mês, fui perguntado se conhecia o romance Bonsai, de Alejandro Zambra, um jovem chileno. O livro possui pouco mais de 90 páginas na diagramação peculiar da Cosac & Naify, e não alcançaria as 50 páginas se num formato tradicional. Sendo totais desconhecidos para mim, o livro e o autor, fui pesquisar, e as resenhas que passei o olho me despertaram curiosidade. Como um livrinho tão pequeno, escrito por um cara de pouco mais de 30 anos, pode render tamanho alvoroço? E, ainda tinha a referência da pessoa que me questionou, que diz coisas sempre tão certas que esta não poderia ser diferente. E, mesmo se assim fosse, de alguma maneira ela teria razão.</div>
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Logo no início do livro é comunicado: Emilia morrerá. Julio não. Dito o fim, vamos ao meio. Conhecem-se de maneira natural, e esse acaso vira necessidade. Como gostam de literatura, criam o hábito de ler juntos à cama. Em dado momento, mentem que lerem Proust. Não podendo retroceder, levam adiante a mentira até lerem "Em Busca do Tempo Perdido", criando a aparência de releitura. Mais adiante, Julio, agora com María, inventa que traballhará como digitador de um famoso escritor, por não ter coragem de revelar a ela que o trabalho foi negado. Sem saída, escreve manuscritos do romance que o escritor não escreveu, e trabalha nele como digitador, como se tudo fosse real. Depois, interessa-se por bonsais, e os cultiva como quem cultiva a própria realidade. Para financiar seu novo sentido da vida, vende os livros. E o que antes era protagonista, se perde como um figurante.</div>
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Ferreira Gullar é um poeta extraordinário. Seu livro mais recente, "Em Alguma Parte Alguma", tem poemas incríveis que abordam de existencialismo a astronomia, coisas que muito me interessam. Logo no texto de abertura, "Fica o não dito por dito", diz: "O poema / antes de escrito / não é em mim / mais do que um aflito / silêncio / ante a página em branco".</div>
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Assim como a criação do poema, a vida de Julio é essa página em branco onde tudo pode ser escrito, e que ele escreve da maneira que convém, sem amarras.</div>
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Numa entrevista na Flip, sobre o livro, Zambra disse que o fim tem menos importância do que se cria no meio. E assim também é na vida. Afinal, todos sabemos que no fim o protaginista - nós - sempre morre. Resta-nos, então, inventar o que se dará até lá.</div>
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Como disse Gullar: "o sentido da vida é inventado a cada momento"...</div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/00368576915801608140noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-15763715127312919452012-06-14T12:08:00.000-03:002012-06-14T18:11:35.428-03:00Como Didi Mocó desconstruiu a arte contemporânea.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfQmv0c4IQLlnczMaSZmXMKWuSni7rfYZ5k-yQRLuAL0vllZ6isUelPskiu_Ym1g0SM4vvjhct6j4eGCNqM1NQ3N6QaeB3zqJVvSgeAC1xaACuSumljNmnb8Gd0sMjpb9ylIFfASY0mIM/s1600/didi+moco.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="242" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfQmv0c4IQLlnczMaSZmXMKWuSni7rfYZ5k-yQRLuAL0vllZ6isUelPskiu_Ym1g0SM4vvjhct6j4eGCNqM1NQ3N6QaeB3zqJVvSgeAC1xaACuSumljNmnb8Gd0sMjpb9ylIFfASY0mIM/s320/didi+moco.jpg" width="580" /></a></div>
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Na Inglaterra dos anos 90, uma geração de artistas foi denominada os "Young British Artists", a nova turminha-do-barulho das artes plásticas britânicas. Dentre esses novos talentos, um era tido como o líder: l'enfant terrible Damien Hirst. Mas, de menino prodígio, Hirst se tornou um coringa, ao invés do herói. E, como a grande maioria dos artistas cotemporâneos, ele gosta da polêmica, da controvérsia, e está mais preocupado na construção do branding do que na produção da obra em si. </div>
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Em 1917, Duchamp fez a sua versão artes plásticas do "proletários de todo o mundo, uni-vos!". E, assim como a outra revolução, o troço não deu muito certo e terminou em colapso, deixando órfãos uma legião de pensadores que não veem que conceitos delirantes não conseguem se materializar em boas coisas no mundo real. Exposto o urinol como protesto no Salão dos Independentes de Nova Iorque, Duchamp lançou seu conceito de ready made, onde a obra não era uma produção do artista, mas uma peça industrial comum deslocada do seu contexto ordinário. Esse, digamos, estilo foi chamado de "apropriação". Então, qualquer coisa poderia ser transmutada em objeto de arte pelo simples deslocamento do uso comum. Praticamente uma alquimia, transformando latão em ouro. Bastava tirar o mictório da Comercial Ramos e colocá-lo no Museu de Arte Moderna e pronto! Fez-se a luz! </div>
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Curiosamente, ainda hoje figuras como Damien Hirst e Jeff Koons se utilizam desses truques, quase 100 anos depois! Hirst já expôs como obra prateleiras cheias de pílulas médicas. Koons pegou bichos infláveis de piscina, como golfinhos e lagostas, e pendurou no teto da galerias. Muitas vezes nenhum dos dois sequer toca nas obras. Funcionários executam a montagem. Eles só pensam essas coisas (pelo menos é o que dizem). Tudo isso, claro, acompanhado de textos tão rebuscados quanto sem sentido explicando o sei-lá-o-quê das obras. </div>
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Assim, a arte passa a ser qualquer coisa decretada como arte, numa metodologia autoritária e sem sentido bem condizente com revoluções de 1917... E por que só alguns alçam o estrelato, já que todos podem fazer arte? Porque, assim como na outra revolução, todos são iguais, mas uns são mais iguais do que outros... </div>
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Em 1975, Tom Wolfe, no ótimo "A Palavra Pintada", apontou como esse é um conceito absurdo, e escreveu: "O que via diante de mim era o crítico-chefe do New York Times dizendo, na observação de uma pintura, hoje, carecer de uma teoria convincente é carecer de algo crucial". Ou seja, a própria crítica admite que de nada vale o objeto em si, mas sim a historinha que o artista conta pra tentar fazer daquilo alguma coisa. </div>
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<br /></div>
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Mas, quem melhor criticou esse conceito que faz o tudo e o nada serem arte, desde que ungidos como tal, foi o maior personagem humorístico da história brasileira (na minha opinião): Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgina Mufumbo!
Numa esquete, Didi é o caixa de um mercadinho e vai atender Chico Anysio, o próprio (se o programa tivesse a pretensão de arte, os críticos babariam pela metalinguagem dialética entre o real e o fictício...). Empolgado em ver o ídolo, Didi bajula Chico como se não houvesse amanhã. Lá pelas tantas, pergunta: "Chico, poderia me dar um pornógrafo?". E Chico: "Autógrafo, sim, claro. Tem caneta?". Então, eis que Didi subverte a lógica e questiona toda a relação entre o valor em si da coisa e o valor atribuído pela intenção, disparando: "Tô sem caneta, mas escreve aqui na máquina", e saca uma máquina de escrever. Incrédulo, Chico pergunta: "Autografar a máquina?". E Didi, mais fundo na subversão dos valores, explica: "Chegar em casa eu passo a limpo.". E, pra finalizar, ainda comenta: "Muito bonita sua letra. É igual à dos livros que eu leio"!
Nesse diálogo genial, de alguns poucos segundos, Didi resume a grande questão da arte atual: a arte se valida pelo valor em si da obra produzida como arte, ou pode ser validada por novas qualidades atribuídas a algo que antes não tinha valor algum? </div>
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<br /></div>
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Essa é a valor de uma obra de arte atual: um autógrafo a máquina passado a limpo. O problema é que, à diferença de Didi, esses troços nem graça têm...</div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/00368576915801608140noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-45734231378283176062012-04-12T14:42:00.000-03:002012-04-17T09:13:25.669-03:00Imputabilidade por Renda para Pessoa Física<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-c2IgIdjnFdtK_XjVOmCE3DZsWzgdfiU8aDvVOpsidxjGhp7qLY0TYAtHxOQI7JoWfCCi9H6Q5G-k-Dgfg8GnRrbZW7_CM4zpJunO7-7oAI7LlE-r-wP0LkoAlBQ2kxxLRHfv6qEe2FM/s1600/money+fire.jpg" style="font-family: Georgia, serif; font-size: 100%; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5730503187532421954" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-c2IgIdjnFdtK_XjVOmCE3DZsWzgdfiU8aDvVOpsidxjGhp7qLY0TYAtHxOQI7JoWfCCi9H6Q5G-k-Dgfg8GnRrbZW7_CM4zpJunO7-7oAI7LlE-r-wP0LkoAlBQ2kxxLRHfv6qEe2FM/s400/money+fire.jpg" style="cursor: hand; cursor: pointer; display: block; height: 297px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 200px;" /></a><br />
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<span style="font-size: 100%;">No Brasil, a violência perdeu os limites e os pudores. É tão presente em nosso cotidiano que a assimilamos como parte natural da vida. Em Salvador, os índices de violência cresceram absurdamente nos últimos anos. O governo, claro, não reconhece que perdeu o controle, e usa o velho argumento de que isso é um reflexo da falta de políticas sociais dos governos passados, blá, blá, blá...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;">É o velho fetiche da luta de classes. Qualquer coisa é analisada pela ótica do capital, sendo que O Capital, óbvio, é a versão pós-moderna do capeta. Quando o filho de Eike Batista se envolveu num acidente com um pedreiro, muitos correram para alardear o embate entre o herdeiro da maior fortuna do país contra um pobre trabalhador. Tudo, claro, antes de qualquer coisa que indicasse quem foi o imprudente da história. E, caso alguma perícia aponte que o imprudente foi o pedreiro, dirão que foi tudo armação financiada pelo capital. Então, o mais rico sempre será o culpado, mesmo se estiver com a razão.</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;">Cria-se, então, um ser imaculado: o desprovido de capital. Proletário, operário, trabalhador, enfim, qualquer que seja a denominação da classe, ela sempre portará todas as virtudes. Curiosamente, sempre será denominada por alcunhas que mostram esforço, como "trabalhadores", criando uma falsa antítese com a classe dominante, pejorativamente chamada de elite (como se o CEO de uma mega empresa não trabalhasse). Essa classe trabalhadora, então, carrega em si o que de melhor o ser humano possui. Mas eis que o nosso bom selvagem se depara com a sociedade movida pelo Capital e... desvirtua-se. Presssionado, vai contra sua natureza e passa a atuar como agente do lado negro da força. Vira bandido, mas os culpados são o Capital e sua elite. Nesse cenário, o criminoso é quase um Robin Hood fazendo justiça social. Tira do opressor para dar ao oprimido, que, no caso, é ele mesmo.</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;">Assim moldamos nossa visão de sociedade. O bandido virou uma vítima social e nós, as verdadeiras vítimas da violência, viramos os algozes. Recentemente uma amiga foi assaltada. Um dos vagabundos disse a ela que não era desonesto, era trabalhador, apenas assaltava por uma necessidade social! Pronto! Os sociólogos conseguiram ensinar Rousseau às massas! Viva a revolução! Conversando com um amigo da polícia militar, ele disse que esses casos dão um desestímulo enorme porque ele prende o cara, entrega na delegacia, e uma semana depois o cara tá na rua cometendo o mesmo crime. São aqueles casos incríveis que vemos de bandidos que já tiveram 23 passagens pela polícia e nada.</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;">Com base nessa sociologia da vontade de potência do oprimido, eu tenho uma proposta mais legal: criar o IRPF - Imunidade por Renda para Pessoa Física. Seria categorizar os crimes permitidos de acordo com o nível de opressão social do indivíduo, e indexado às faixas do imposto de renda. Funciona assim:</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;">- Quem tivesse na maior faixa do imposto de renda teria tolerância zero. Se cometer qualquer crime é cadeia sem direito de defesa. Afinal, se o cara tem dinheiro, é criminoso por safadeza mesmo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;">- Nas faixas intermediárias, o cara pode cometer delitos leves, sem exagerar. Aí podemos aplicar penas alternativas, socio-educativas, colocar o cara pra dar aula de artesanato com resto de garrafa pet, essas coisas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;">- Já o cara que tá na faixa de isento, esse tá liberado! Pode barbarizar à vontade! Afinal, ele é uma pobre vítima dessa sociedade cruel e opressora.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;">- E, por fim, temos o exepcional caso do cara na faixa de isenção e que não teve pai. Esse é sem limites. Porque, claro, se ele não teve a referência do totem regulador da figura paterna, não é justo cobrá-lo enquadramento nos limites do tabu. Então, vale estuprar a mãe, a vó, a enteada...</span></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 100%;">Enquanto pensarmos no bandido como um consequência do sistema, é esse caos atual que teremos. Acho que devemos pensar no indivíduo como o resultado das suas escolhas pessoais, como o produto do exercício da sua liberdade. Já que o ponto de vista atual não está dando muito certo, por que não tentar o outro ponto de vista, né?</span></div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/00368576915801608140noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-64971733031709333092012-02-03T12:53:00.004-02:002012-04-17T09:10:25.818-03:00Salvador e o dia em que o medo matou a esperança.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNR3Dcb8HfOYVf3BwKsxBw45avT0-1ahyphenhyphenWKDRWXOJfq_Z11uw5rMHp4aqh1RknQrodfi9mSYR5RtBlIVPG6Z0FTPBKYpIC4UY6yDX3J3TbdOMDjZu-2XFD0cJYEedcwSxc8v0vDo-6JNIG/s1600/animal-farm1.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5704923200641938642" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNR3Dcb8HfOYVf3BwKsxBw45avT0-1ahyphenhyphenWKDRWXOJfq_Z11uw5rMHp4aqh1RknQrodfi9mSYR5RtBlIVPG6Z0FTPBKYpIC4UY6yDX3J3TbdOMDjZu-2XFD0cJYEedcwSxc8v0vDo-6JNIG/s400/animal-farm1.jpg" style="cursor: hand; cursor: pointer; display: block; height: 398px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 580px;" /></a><br />
<div style="text-align: justify;">
Em Salvador, policiais militares grevistas andando armados e enncapuzados, tocando o terror. Comércio fechando as portas, população em pânico, e o governador pressionado por não estar na capital. Tudo a menos de quinze dias de uma grande festa popular. Sem saída, restou pedir auxílio ao governo federal. E, enquanto o governo do Estado alega que a greve é ilegal, a oposição apóia a revolta e acusa a incompetência de quem ocupa o poder.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando ocorreu isso? Em junho de 2001, menos de duas semanas antes do São João. À época, o grupo político que hoje governa era oposição. E, como opositores combativos que eram, aliaram-se aos grevistas e responsabilizaram a incompetência do governo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Passados dez anos, eis que a história cumpre a sina de sempre se repetir... Tudo ocorreu da mesma forma, só que quem antes acusava o governo, agora ocupa o poder. E, se antes andavam de braços dados com os revoltosos, agora os acusam de promover uma greve ilegal! Ô, não entendi! Porque antes o movimento era tão legítimo a ponto de merecer apoio político, e agora não mais merece tamanho carinho? </div>
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<br /></div>
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Quem me conhece - e/ou me lê - sabe que não cultivo apreço por correntes ideológicas que acham que o coletivo se impõe ao indivíduo. Isso porque a teoria, (mal) disfarçada de cordeiro, esconde o lobo do homem que promove um grupo seleto à categoria de detentores exclusivos da Verdade. Na União Soviética, enquanto o povo não comia nem o pão que Stálin esmagou, a cúpula do Partido comia queijos e vinhos importados da França. Com certeza, deve haver uma boa teoria que justifique o privilégio dos camaradas...</div>
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Pra mim, a metonímia é outra, e o indivíduo faz o coletivo, e não o coletivo determina o indivíduo. E isso me é tão claro que poderia ser justificado por questões semânticas, né? Só há coletivo, quando há indivíduos. Mas a recíproca nem sempre é verdadeira...</div>
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Voltando ao tema, um ex-presidente, famoso por falar tudo o que não pensa, guru máximo do atual governo, falou sem pudores que “quando a gente está na oposição, faz muita bravata”. Em 2009, Gordon Brown, então primeiro-ministro britânico, cometeu a inconfidência de contar uma confissão do brasileiro: "Quando eu era líder do sindicato, eu culpava o governo. Quando me tornei líder da oposição, eu culpava o governo. Quando me tornei governo, passei a culpar a Europa e a América.”</div>
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A política baiana, parece, segue à risca os ensinamentos do mestre, e mostra que na prática a teoria é outra.</div>
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O atual grupo político se notabilizou nacionalmente por pregar que a esperança venceria o medo.</div>
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Passados 10 anos, mostraram que cultivaram o medo para vender uma esperança. Só que a esperança foi a única a morrer. </div>
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Obs.: Não citei nomes nem partidos para deixar claro o quão sem identidade se tornou a política. E, apesar de todos estarem bastante parecidos, sempre há uns bem mais iguais do que os outros...</div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/16496136372003606200noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-27696953537428494242012-01-10T00:33:00.002-02:002012-01-10T10:27:13.988-02:00O homem que desafiou o Universo... e venceu!<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhpGIfqq-mSlyiT5mZ8KFnEu24wdwrVPtTCWJDagDKzlhGj5GYGGyAb0Y6XIJo6uKDO9uWDb2Kt1NgJW01PPZJLNWxWE2_es9xlDvZcEq_nRHWwn6i6utJkVBNJfWyKQLSqMgiBebXVYI/s1600/stephen+hhawking.jpeg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 580px; height: 369px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhpGIfqq-mSlyiT5mZ8KFnEu24wdwrVPtTCWJDagDKzlhGj5GYGGyAb0Y6XIJo6uKDO9uWDb2Kt1NgJW01PPZJLNWxWE2_es9xlDvZcEq_nRHWwn6i6utJkVBNJfWyKQLSqMgiBebXVYI/s400/stephen+hhawking.jpeg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5695822816871713410" /></a><div><div style="text-align: justify;"><span style="text-align: left; ">No domingo, dia 08 de janeiro, Stephen Hawking completou 70 anos. Há cinquenta anos, quando tinha apenas 20 anos, foi diagnosticado com esclerose lateral aminiótica, e comunicado que a expectativa de vida para portadores desta doença não ultrapassava alguns poucos anos.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Desde pequeno, Hawking chamava atenção pela capacidade de concentração e abstração. Ainda criança, gostava de criar jogos de tabuleiro e passar horas jogando com os amigos. Mas logo os jogos se tornaram tão complexos que apenas ele conseguia brincar. Aos 17 anos ingressou em Oxford para cursar ciências naturais com ênfase em física, e aos 20 foi aceito na pós-graduação de Cambridge. Seu sonho era ser orientando de Fred Hoyle, um dos maiores cientistas da época. Em Oxford, Hawking era um jovem intelectual de humor irônico, que frequentava festas, e não escondia sua genialidade em modéstias forjadas. Mas, em Cambridge, ele era só um garoto entre gigantes. O primeiro baque foi quando Hoyle não quis ser seu orientador, designando um assistente. Hawking se sentiu humilhado. Mas, alguns anos depois, Hoyle, de certa forma, ajudou o aluno renegado...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além de grande cientista, Hoyle era um grande ego. Empolgado com uma teoria, decidiu contá-la em uma palestra antes de finalizar todos os cálculos. Como aluno, Hawking teve acesso à pesquisa, e decidiu ir à aula do professor. Mas, não era uma palestra comum. Seria proferida na Royal Society, tendo na plateia muitos dos maiores cientistas da época. Após expor a teoria, Hoyle abriu para perguntas. Do fundo da sala, um jovem magro, de óculos grandes, custou a levantar seu frágil corpo apoiado em uma bengala. Para surpresa dos presentes, disse: "A quantidade sobre a qual está falando diverge". Com desprezo, Hoyle negou o erro e perguntou como ele poderia afirmar isso. E Hawking respondeu: "Porque eu fiz os cálculos". Pouco tempo depois, Hawking utilizou a relatividade geral e na mecânica quântica para desenvolver teorias sobre os buracos negros e o Big Bang. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Hawking transcendeu os limites acadêmicos e virou um pop star. Escreveu livros que venderam milhões de cópias em mais de 30 países, foi tema de uma séria do History Channel, participou de Star Trek e dos Simpsons. Na foto acima, vê-se, em seu escritório, um desenho e um boneco dele mesmo inspirado na sua participação nos Simpsons, e a famosa imagem de Marilyn. Na porta, ainda há uma placa "Não incomode, o chefe está dormindo". Com humor ácido, gosta de dizer que a cadeira de Professor Lucasiano de Matemática de Cabridge, que já foi ocupada por ninguém menos que sir Isaac Newton, agora possui rodas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um buraco negro é uma estrela que colapsa e tem seu núcleo contraído até alcançar uma densidade tão grande que vira um nada, onde não há espaço nem tempo, onde o universo acaba. Na esclerose lateral aminiótica, o corpo vai definhando como uma estrela colapsada, retraindo-se em si mesmo rumo ao seu final. Hawking teorizou que, da mesma forma que o buraco negro engole o universo, numa ação reversa, ele poderia expelir o que engoliu, ou seja, criar o universo onde aparentemente não há nada. Foi a ideia para o Big Bang. E, assim como no Big Bang, a mente de Hawking parece um universo que emerge de onde a vida parece ter colapsado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Hawking desafiou o Universo. </div><div style="text-align: justify;">E venceu!</div></div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/00368576915801608140noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-22863507636410333492011-11-08T18:24:00.009-02:002011-11-09T13:09:24.123-02:00Os bandidos da USP, o ódio, e a psicopatia ideológica<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCZK2hS5OHKatoRgs9roofFvljNTBBtsYqzX7Smx7m8TqzJIQq5kZR6vFSfKLsAPQbhezSH2mHvYWNiZe78fhnaJWOoh4aYBsnFzpHkVh-FknWY1QL_TJJNQSIwW9Ir3eoMLHfjDYcZF_k/s1600/usp.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 580px; height: 216px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCZK2hS5OHKatoRgs9roofFvljNTBBtsYqzX7Smx7m8TqzJIQq5kZR6vFSfKLsAPQbhezSH2mHvYWNiZe78fhnaJWOoh4aYBsnFzpHkVh-FknWY1QL_TJJNQSIwW9Ir3eoMLHfjDYcZF_k/s400/usp.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5672725411117080946" /></a><span class="Apple-style-span"><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span">À esquerda, os invasores pintam seu pensamento. À direita, obra genial de Banksy.</span></div></span><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A USP presenciou dias de extrema barbárie patrocinada por um grupo de bandidos alimentados pela psicopatia ideológica da tal luta de classes. Entre moletons importados e camisetas do PCO, proferiam aquela mesma ladainha cheia de jargões e clichês que caducaram antes mesmo de algum dia fazer sentido. Esse papo de combater a opressão-do-capital-imperialista-burguês me dá uma preguiça danada... Nesses dias de chuva então.. Mas, vamos lá. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A psicopatia é um distúrbio que tem como característica uma disfunção moral. O psicopata compreende plenanente o que se passa a seu redor, ele não é louco, ele apenas conduz as coisas de maneira a obter sempre o resultado que deseja, sem se preocupar com as consequências. Ele não tem freios morais. Tanto assim que é considerado um transtorno de personalidade dissocial. Como bem definiu Philippe Pinel no seu "A Treatise on Insanity": "<b>Nenhuma mudança sensível nas funções do entendimento</b>, mas com uma perversão das faculdades ativas, marcada por uma <b>fúria sanguinária e transcendente, com uma cega propensão a atos de violência</b>". Atualmente, pela Classificação Internacional de Transtornos Psíquicos (CID), algumas características deste transtorno são:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">- Clara e constante falta de responsabilidade e desacato às normas sociais, regras e obrigações. </div><div style="text-align: justify;">- Pouquíssima tolerância a frustrações e tendência ao comportamento agressivo e violento.</div><div style="text-align: justify;">- Incapacidade de experimentar consciência de culpa ou de aprender com a experiência e, principalmente, com penalidades. </div><div style="text-align: justify;">- Tendência a culpar os outros e a dar explicações superficiais do próprio comportamento condenável.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No site do PCO, muito benquisto pelos invasores da USP, logo de cara temos o (des)prazer de ver uma foto do grande humanista Leon Trotsky. Uma das obras da figura é " A Moral e a Revolução". Lá no capítulo 16, lê-se:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"></div><blockquote><div style="text-align: justify;">"Na luta de classes contra o capitalismo, são permissíveis todos os meios? A mentira, a falsificação, a traição, o assassínio, etc?</div><div style="text-align: justify;">São admissíveis e obrigatórios apenas os meios que aumentam a coesão do proletariado, <b>inflamam sua consciência com um ódio inextinguível para com toda forma de opressão, ensinam-lhe a desprezar a moral oficial e seus arautos democráticas,</b> dão-lhe plena consciência de sua missão histórica e aumentam sua coragem e sua abnegação. Donde se conclui, afinal, que nem todos os meios são válidos".</div></blockquote><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Entenderam? Ele não condenou o terrorismo. Apenas condenou o terrorismo que não serve à causa. Como um psicopata, Trotsky desconsidera os valores morais, relativizando-os de acordo com seu interesse próprio. Assim orientados, os bandidos da USP acham que invadir prédio público, depredar patrimônio, descumprir ordem judicial e carregar coquetéis molotov na mochila são coisas "admissíveis e obrigatórias", desde que sejam feitas a favor das suas ideias. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os invasores, numa "clara falta de responsabilidade e desacato às normas sociais", mostraram que têm "pouquíssima tolerância a frustrações" e demonstraram todo o seu "comportamento agressivo e violento". Mas, por "incapacidade de experimentar consciência de culpa ou de aprender com penalidades", tentarm se fazer de vítimas, acusando a polícia de violência psicológica, numa clara tentativa de "culpar os outros e a dar explicações superficiais do próprio comportamento condenável". Opa, acho que já li isso antes!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Se alunos de Letras, Filosofia e Sociologia usam coquetéis molotov para argumentar, há algo de muito errado...</div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/16496136372003606200noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-4291193570753178402011-10-27T11:12:00.007-02:002011-10-27T11:20:59.960-02:00A Perereca Que Pisca, a deputada e George Orwell<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMzQ7z8Ar8NdN1wbArdYSFpFYyry_Uq8ms1RMQ_mJYpIL1izC1t3L0jXJ9Y0GOY4zMc_CwGtzrZVz36SYSQw2hmOh9xaxwY1-GxIqCL5rk4p4AojW6s9z6Z02LjUllacX9B5UGF21mJSu3/s1600/big+brother.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 580px; height: 301px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMzQ7z8Ar8NdN1wbArdYSFpFYyry_Uq8ms1RMQ_mJYpIL1izC1t3L0jXJ9Y0GOY4zMc_CwGtzrZVz36SYSQw2hmOh9xaxwY1-GxIqCL5rk4p4AojW6s9z6Z02LjUllacX9B5UGF21mJSu3/s400/big+brother.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5668159598318951778" /></a><br /><div style="text-align: justify;">Recentemente, a deputada Luiza Maia manifestou toda a sua insatisfação com a Perereca Que Pisca, como <a href="http://bahiavitrine.blogspot.com/2011/08/favor-do-pagode-da-perereca-que-pisca.html">escrevi neste post</a>. Agora, voltou suas atenções para a imprensa. Enquanto isso, o vocalista da banda Black Style, o da perereca, anunciava que escreverá um livro baseado no clássico 1984, de George Orwell. E, eis que, mais uma vez, os caminhos dos dois se cruzam.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A deputada, agora, quer regular a imprensa. Segundo ela, a “grande mídia virou partido político”, "é muita denúncia falsa, muita esculhambação que tem aí”, e se faz necessário um “controle do conteúdo dos programas de TV”. Enfim, é o papo de sempre. Como bem disse Millôr Fernandes: democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim. Assim funciona o raciocínio da deputada. Eu não acho que existe o grupo dos puros de coração, e o dos malvados que querem nos levar para o lado negro da força. Basta ler o texto anterior para ver que creio que todos têm, como disse Roberto Carlos, o bem e o mal que existem. E, cabe a você, escolher. Afinal, é preciso saber viver. Mas, para a deputada, imprensa boa é a que denuncia os inimigos. A que denuncia os amigos é golpista. Se a Veja denunciar um aliado, é golpe. Se a Carta Capital denunciar um inimigo, é resistência. Pra mim, canalha é canalha, independente se veste azul ou vermelho, se usa broche com estrela ou plumas de tucano. E, quando leio sobre controle de conteúdo, logo penso: quem decidirá o que é bom ou ruim? Por que alguém terá a capacidade de escolher o que será a minha verdade? </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Robyssão (meu deus), do Black Style, me surpreende. Não sei como alguém pode ter talentos tão distintos. Depois de Bate Com a Bunda, Esfrega a Xana No Asfalto, Amassa a Latinha Com a Bunda e Chuva De Perereca, vai partir para literatura filosófica. Versatilidade é isso. No livro 1984, Orwell narra a história de uma sociedade dominada por uma ultra ditadura totalitária. E, o símbolo da repressão é o controle das informações. As pessoas só sabem aquilo que o partido julga ser A Verdade. Na primeira edição inglesa de "A Revolução dos Bichos", Orwell escreveu um prefácio intitulado " A liberdade de imprensa". Lá ele comenta a liberdade de um lado só. Uma editora, por exemplo, rejeitou o livro porque achou que não criticava ditaduras e, sim, a ditadura soviética. Ou seja, existe a ditadura do mal, que deve ser combatida, e a do bem, que apenas quer nos guiar rumo à salvação. Qualquer semelhança com o pensamento da deputada...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Robyssão e a deputada voltaram a se encontrar, desta vez em Orwell. Pelo histórico de poesias, não acho que o rapaz seja capaz de produzir algo interessante, mas isso não me faz pensar em censurar o direito que tem de cometer esse livro. De certa forma, admiro o fato dele citar e ter como referência uma grande obra. Sinal de que, talvez, tenha salvação. Já a deputada escolheu Orwell pelo outro lado, o lado da caricatura do autoritarismo. Ela decidiu ir de volta para o futuro de 1984.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Que coisa... entre a Perereca Que Pisca e a deputada, mais uma vez, fiquei do lado da perereca.</div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/16496136372003606200noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-82913310184740599682011-10-20T18:15:00.004-02:002011-10-20T18:20:57.274-02:00Serge Gainsbourg partido ao meio e o mal que habita em nós<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg__XafBeXO8Vh2H2JeW04crPnH7iAu5CyRUT8HBF9PretCUxlgPF5MbvBKJ3oURWh-7GVmyf6nG8GYbbh4BPZYD4t6YR1KfwMYPpNfJ_6GkYcwvxfuhadDSM7dyskj20wDMCPxjUzPanTH/s1600/serge+gainsbourg.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 580px; height: 276px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg__XafBeXO8Vh2H2JeW04crPnH7iAu5CyRUT8HBF9PretCUxlgPF5MbvBKJ3oURWh-7GVmyf6nG8GYbbh4BPZYD4t6YR1KfwMYPpNfJ_6GkYcwvxfuhadDSM7dyskj20wDMCPxjUzPanTH/s400/serge+gainsbourg.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5665671159921634114" /></a><div><span class="Apple-style-span" ><i>Coitado tem andado a delirar</i></span></div><div><span class="Apple-style-span" ><i>Ele quer tantas fêmeas a conquistar</i></span></div><span class="Apple-style-span" ><i>Fica sempre circulando<br />Pois muitas delas quer ofuscar<br />Para todas poderem em fim desapontar<br /><br />Sabe muito bem como é ruim<br />Ser dia e noite um estopim<br />Que assim aceso vai buscar o próprio fim<br />Para uma vez morto viver com James Dean<br /><br />Nas vezes que ele quer me confundir<br />Sorri e pede licença para sair<br />Parece que finalmente vai sumir<br />Mas é quando eu mais devo me prevenir<br />Desse mal que habita em mim<br /><br />(Marcelo Nova - Camisa de Vênus)</i></span><br /><br /><br />O filme "Serge Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres" é anunciado como uma cinebiografia do famoso e polêmico cantor e compositor francês. Pensei, então, que seria uma narrativa linear e realista do cara que feio e esquisito que conquistou, apenas, Brigitte Bardot e Jane Birkin (praticamente um Sarkozy underground). Mas, o filme não segue a biografia crua e, sim, recria a vida de Gainsbourg por uma ótica bem psicológica. Em todo o filme, um personagem-caricatura de Gainsbourg, faz as vezes do demônio pessoal que tenta levá-lo para o lado negro da força. É mal que habita nele corrompendo-o rumo à destruição.<br /><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No livro "O Visconde Partido ao Meio", o italiano Ítalo Calvino cria uma fábula leve e quase infantil (no estilo) que mostra esse eterno conflito entre as dicotomias nossas de cada dia. Nela, o visconde Medardo di Terralba é atingido por uma bala de canhão e tem seu corpo dividido exatamente ao meio. Então, cada parte sobrevive independente, mas conserva sentimentos opostos. Enquanto uma levava toda a parte boa do visconde, a outra só conservou seu lado ruim. Mas, nenhuma das partes conseguiu ser feliz sendo apenas bondade e apenas maldade. No fim, as partes são costuradas e voltam a ser uma: "Assim, meu tio Medardo voltou a ser um homem inteiro, nem bom nem mau, uma mistura de maldade e bondade ". </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como disse o próprio Calvino, o homem é um ser “mutilado, incompleto, inimigo de si mesmo”. E, ser um homem inteiro, é conservar dentro de si mesmo esse duelo entre os opostos, tentando equilibrar-se na linha média que não nos deixa ser pender para um extremo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Numa cena marcante do filme, Gainsbourg deixa de ser ele, e passa a ser o próprio demônio caricato que havia nele. Portanto, deu-se a derrota do lado bom, restando-lhe apenas aquilo que o destruía.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Serge Gainsbourg venceu o mundo, mas perdeu o duelo contra si mesmo...</div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/16496136372003606200noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-89991069678669707602011-10-05T01:25:00.003-03:002011-10-06T12:36:52.552-03:00Os ovos de Dilma ou a lingerie de Gisele?<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVElraZypHLhMfXrhQqqA9XVWoNixYCp54UWHgByZrGAnSPZ-vcPDW2ljhZcHNRrTEHLphlWP5B4dh2f609_WEzb-zSBQl-2VCK7-CbK3fqauyObYIRkJkoFfMw46_aSli83CJ9ANHn2ox/s1600/gisele.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 580px; height: 336px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVElraZypHLhMfXrhQqqA9XVWoNixYCp54UWHgByZrGAnSPZ-vcPDW2ljhZcHNRrTEHLphlWP5B4dh2f609_WEzb-zSBQl-2VCK7-CbK3fqauyObYIRkJkoFfMw46_aSli83CJ9ANHn2ox/s400/gisele.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5659860053258646786" /></a><br /><div style="text-align: justify;">A Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) encrencou com a propaganda da Hope com Gisele Bündchen. Nela, Gisele ensina truques de sedução para as mulheres extraírem agrados com mais facilidades de seus cônjuges. A secretaria viu nisso uma exaltação da exploração-machista-dominante que rebaixa as mulheres a uma condição submissa. Ufa! Mais um pouco e aparecia o imperialismo yankee e o neoliberalismo na história. E, para mostrar que a voz do povo é a voz no que deu, a secretaria disse que recebeu seis reclamações de pessoas “indignadas” com a propaganda... Isso mesmo: seis criaturas. Não sei qual a média de reclamações por propaganda (e isso é tão besta que tenho preguiça de pesquisar), mas acredito que muitas propagandas do governo geram mais reclamações. Aquelas propagandas ridículas da Dolly, então, devem ser trending topics da ouvidoria!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O governo atual, desde sempre, tentou criar essa besteirada de uma gestão mais humana porque feminina. Tudo que se faz tem aquele papo de a primeira "presidenta", a primeira mulher a chefiar sei-lá-o-quê, e blá, blá, blá. Seria uma maneira de mostrar que as mulheres podem tanto quanto os homens. Na minha opinião, só o fato de fazer tanto alarde por igualdade já é um sinal de crer numa desigualdade. Qualquer excesso de afirmação esconde a crença no desigual. Eu não voto em alguém porque é mulher, homem, negro, branco, casado, solteiro, canhoto ou destro. Eu voto em quem tem ideias que me agradam e julgo capaz de efetivá-las. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Curiosamente, esse mesmo governo que classificou a propaganda de Gisele como uma exaltação ao esteriótipo da mulher objeto fez questão de criar o esteriótipo da dona de casa para a "presidenta". Afinal, pensaram, uma mulher que não sabe nem fritar um ovo não serve pra casar. E, se não serve pra casar, como pode governar? Decidiram, então, que a "presidenta" deveria mostrar todas as suas prendas do lar para, assim, convencer a todos que é mulher de verdade. Os ovos de Dilma, então, viraram uma tara. Fez-se omelete no programa de Luciana Gimenez, em Ana Maria Braga e ainda teve comentários sobre o prato na entrevista concedida a Patrícia Poeta. Mas, acreditar que uma mulher só é uma mulher se souber cozinhar não é rebaixá-la a uma condição submisssa e esteriotipada? Mulheres que não sabem nem fazer pipoca não podem ser competentes para ocupar cargos de alto escalão? Quer dizer que a mulher só pode sair de casa depois que estiver prendada o suficiente?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que as burocratas da secretaria não entenderam é que a propaganda de Gisele ironizava justamente os homens. O que se diz na peça é que os homens são tão bestas que basta um truque para tê-los completamente sob domínio. Os homens seriam, então, os dominados, enquanto as mulheres, sagazes e cientes de suas armas, conquistam o que desejam sem grandes esforços.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para ser mais feminina, Dilma mostrou os ovos, e se deu mal. Gisele, muito mais esperta, exibiu a lingerie, se deu bem, e ficou mais mulher.</div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/16496136372003606200noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-47619801809850687932011-09-08T21:14:00.004-03:002011-09-13T00:02:05.865-03:00O Planeta dos Macacos de Rousseau, o Complexo do Alemão, e os humanos de Voltaire.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSdJBcE3x3cISlUOFQ0QIYpBZ7bh_Mz2e6ekGACBQz1ecJQFZtyj56HINlKh2Lf6_RQ5pIKApGnbFxfLyzoC0DOHZDS_nv3lDjLcCJgf19MyxQi5IgsOK_YB0XBstDqEw6jotPJ87IjS5E/s1600/planeta_macacos_post.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 580px; height: 241px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSdJBcE3x3cISlUOFQ0QIYpBZ7bh_Mz2e6ekGACBQz1ecJQFZtyj56HINlKh2Lf6_RQ5pIKApGnbFxfLyzoC0DOHZDS_nv3lDjLcCJgf19MyxQi5IgsOK_YB0XBstDqEw6jotPJ87IjS5E/s400/planeta_macacos_post.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5650147058994695842" /></a><br /><div style="text-align: justify;">"Comparai o estado do homem civilizado com o do homem selvagem, e investigai como além da sua maldade, suas necessidades e suas misérias, o primeiro abriu novas portas à miséria e à morte". Esse é um trecho do livro "Discurso Sobre a Origem da Desigualdade", de Jean-Jacques Rousseau. Para ele, o homem é, por natureza, um ser puro e imaculado, desprovido de todo mal, amém. Aí vem essa tal de sociedade para oprimir e corromper o coitado que, então, se transforma nesse monstro que é o homem civilizado. Ou seja, pra Rousseuau os bárbaros são os civilizados e os civilizados são os bárbaros. E, sendo assim, um criminoso deixa de ser um canalha que optou pela maldade e passa a ser uma vítima desse mundo cruel... Voltaire, sempre genial, comentou o delírio de Rousseau com a acidez de sempre: "Ninguém poderia pintar um quadro com cores mais fortes dos horrores da sociedade humana, para os quais nossa ignorância e debilidade tem tanta esperança de consolo. Ninguém jamais empregou tanta vivacidade em nos tornar novamente animais: pode-se querer andar com quatro patas, quando lemos vossa obra".</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O filme "O Planeta dos Macacos: A Origem" conta, como nos diz o título, o início do domínio do mundo pelos macacos. Basicamente, o filme mostra como os macacos eram oprimidos e torturados por humanos cruéis que, num personagem caricato, dizem só se interessar por lucros. Estimulados por uma droga que lhes confere mais inteligência, os macacos logo percebem que "a história de toda a sociedade existente até hoje tem sido a história das lutas de classes". Pois é, nem sempre capacidade de raiocínio dá em boa coisa, mas sigamos. Embebido pelo sentimento de revolta e libertação, César, o chimpanzé principal, organiza a revolução. E, como todo primata cheio desses anseios, impõ-se como líder do movimento endurecendo, mas sem perder a ternura jamais. Convoca um gorila gigante pra dar uma surra no seu principal opositor, e tá tudo dominado. Nos momentos de confronto entre símios e humanos, fica clara a intenção do diretor em nos fazer ter carinho pelo bárbaro oprimido. Enquanto os macacos são assassinados num tom martirizante, os humanos sempre têm mortes que paracem uma pena pelas suas maldades. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No Rio, e em outros lugares, muitos pensam como Rousseau. O poder paralelo do tráfico que domina os morros seria só uma consequência dessa sociedade perversa que transforma anjos em demônios. O cara que carrega um fuzil, comanda arrastões, e vende crack sem piedade ou remorso deixa de ser o vilão, e passa a ser vítima da civilização. Sendo assim, não cabe penalizá-lo. Com muito alarde divulgou-se a nova maravilha que era o Complexo do Alemão. Com antecedência o governo disse: "pessoal, se preparem que estamos chegando". Orgulhoso, contou que não houve confronto, e teorizou que prender não era o objetivo, o que queriam era conquistar território. Afinal, se é a civilização que cria os bandidos, melhor deixá-los num território remoto, longe de nós, onde possam exercer sua natureza boa, né? Pois é... enquanto o governo brincava de WAR, a barbárie se organizava no mundo real. E, quando tudo parecia tranquilo, mostrou que continuava tão viva quanto sempre. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Pena que Rousseau não teve a oportunidade de estudar a vida dos macacos. Os chimpanzés, por exemplo, para se impor frente a seus adversários cometem atos de uma atrocidade chocante. Uma das cenas de documentário mais impressionantes que vi é de um grupo de machos que atacam uma fêmea e roubam seu recém-nascido. Após jogar o macaquinho de um para o outro, decidem matá-lo. O macho dominante morde e esmaga o crânio do pequenino, e depois todos o comem. Nós só somos humanos porque civilizados. A sociedade não é o meio que corrompe nossa maldade e, sim, o freio moral e legal que nos impede de voltar à barbárie. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Prefiro os humanos de Voltaire aos macacos de Rousseau... </div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/16496136372003606200noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-80982280485965953392011-08-04T17:05:00.001-03:002012-04-17T09:03:38.196-03:00A favor do pagode da perereca que pisca, do liberalismo, e do plural.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvYF9HwWF08InY3o3hlgkkQE95fxI0bJAuiu_KQ1LwtPWURD0RYneQNMWZzTmP5__mMaeEJxkXZzN8jljgSTPjztve_q1iWnEO3c66b91NYKROyzazz9pwwLqLIx4ZDxVddKWATXbcRmZN/s1600/perereca.png"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5637091564747580498" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvYF9HwWF08InY3o3hlgkkQE95fxI0bJAuiu_KQ1LwtPWURD0RYneQNMWZzTmP5__mMaeEJxkXZzN8jljgSTPjztve_q1iWnEO3c66b91NYKROyzazz9pwwLqLIx4ZDxVddKWATXbcRmZN/s400/perereca.png" style="cursor: hand; cursor: pointer; display: block; height: 323px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 400px;" /></a><br />
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A deputada Luiza Maia causou polêmica ao propor uma lei que proíbe o governo de contratar bandas que possuem músicas ditas ofensivas às mulheres. Pra mim, na verdade, governo não devia contratar banda alguma, mas isso é outro assunto. No site oficial da deputada não tem o texto do projeto, tem apenas umas chamadas revista-de-celebridades dizendo que ela está "fazendo o maior sucesso na mídia e entre a população", e que o sucesso é tal que ela "precisa agora de um banho de folha para não deixar o mau olhado encostar". É... se esse sucesso continuar a passos tão largos ela termina na Fazenda... Enfim, sigamos. Acho a proposta absurda. E já escrevi sobre a nova MPB - música popular baiana - <a href="http://bahiavitrine.blogspot.com/2011/01/o-pagode-do-heroi-doido-tom-wolfe-e.html">nesse texto aqui</a>.</div>
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O economista Walter Williams é um grande pensador liberal. Negro, cresceu nos EUA em um período onde a segregação racial era lei. Pobre, começou a trabalhar aos 10 anos como engraxate. Hoje, aos 74 anos, é Ph.D em economia pela UCLA. Ele tinha tudo para ser um defensor radical de cotas, das minorias, dos fracos e dos oprimidos. Mas, resolveu defender apenas a liberdade das pessoas serem indivíduos. A síntese de seu pensamento é que todos têm o direito de livre associação e livre pensamento desde que dentro da lei. Já o governo não tem o direito de se associar apenas àquele que julga melhor. Como disse, "a discriminação é indesejável nas instituições financiadas pelo dinheiro do contribuinte".</div>
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O perigo desse projeto, além do conceito, é a maneira que será posto em prática. Afinal, quem definirá quais músicas ofendem as mulheres? Uma comissão de burocratas com cargos de confiança? Caetano Veloso, na música "Não Enche", relata o desabafo de um cara que não quer mais a mulher e chama a ex-amada de "demente", "malandra", "vagaba", "à-toa", "vadia", e outros termos carinhosos. Caetano se enquadraria no tal projeto? Alguém logo vai dizer "ah, mas é Caetano, não pode comparar, e tem que ver o contexto, blá, blá, blá". Antes que alguém venha com essa chatice, não é comparação de obras, é análise de uma única música. Outro pode dizer que na música de Caetano as ofensas são manifestações do eu-lírico, não do autor. Ok, tudo bem. E se o cara do Black Style, num surto psicótico, usar o mesmo argumento? E se ele disser que ao cantar "quando chego na boate, ela se excita, levanto a garrafa de whisky e a perereca pisca, pisca, pisca" está narrando o cotidiano de um personagem fictício que preenche seu vazio existencial com relações supérfluas, sem densidade emocional, numa referência à teoria dos Amores Líquidos do badalado sociólogo Bauman? E se outro disser que "tapa na cara, mamãe" é uma releitura de Nelson Rodrigues? Porque, afinal, a mulher normal gosta de apanhar, e só quem reage é a neurótica, já disse o escritor...</div>
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Se tudo estiver nos limites da legalidade, não tô nem aí, mesmo não sendo do meu agrado. Como disse Walter Williams "é fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas". </div>
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Enfim, sou a favor do plural, e cada um que se junte com quem bem entender. Cada um tem o playlist que merece. Um exemplar da exótica fauna nativa soteropolitana se defendeu dizendo que "as nossas músicas é (sic) alegria pro povo". Já a deputada disse que o projeto visa "impedir que determinados compositores, determinadas bandas, seja contrada (sic) com dinheiro público". Diante disso, afirmo mais enfático: vamos defender o plural!!!</div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/16496136372003606200noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-81461834079090826972011-07-26T12:29:00.004-03:002011-07-26T12:46:46.424-03:00Amy Winehouse, Salvador e a escolha do cadáver adiado<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT9HtdCWcJVUA3ReomzbD7z3EiWQkJxStLTyRQNqJCH54d8finQ39093ICBtoZXMAjOku6VRynZn7M_8-l5ij8u-HZFs96ldL3-ekGcxDrNiC-8SnqS-FT2iJLBFMwhHfeyGT9zA8L_wAk/s1600/amy.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 580px; height: 277px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT9HtdCWcJVUA3ReomzbD7z3EiWQkJxStLTyRQNqJCH54d8finQ39093ICBtoZXMAjOku6VRynZn7M_8-l5ij8u-HZFs96ldL3-ekGcxDrNiC-8SnqS-FT2iJLBFMwhHfeyGT9zA8L_wAk/s400/amy.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5633686457823795058" /></a><div style="text-align: justify;">"Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia". Essa é a primeira frase do livro "O Mito de Sísifo", de Camus, onde ele trata da liberdade de viver. Escolher os caminhos da própria vida é exercer de forma plena a condição de ser humano.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O assunto do fim da semana, claro, é a morte de Amy Winehouse. Vi muita gente se dizendo chocada, pega de surpresa, triste com essa notícia repentina... Bom, meu comentário quando soube foi: "Tecnicamente, ela ainda podia ser considerada viva?". Não nutri nenhum sentimento, bom ou ruim, sobre o fato. Era apenas algo bastante previsível. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Amy Winehouse tinha 27 anos. Poderia ser uma mulher sexy, talentosa, com uma presença de palco avassaladora, cheia de vida e carisma. Mas, ela decidiu ser um zumbi deprimente. E, independente de qualquer teoria socio-psicológica, ela teve opção, ela escolheu seguir o caminho que teve. No momento em que tentaram levá-la à reabilitação ela disse não, não, não, e aí confirmou Camus, também em "O Mito de Sísifo": "Existe um fato evidente que parece absolutamente moral: um homem é sempre vítima de suas verdades. Uma vez que as reconhece, não é capaz de se desfazer delas. Precisa pagar um preço". Ela decidiu ser aquela sua verdade, se consagrou cantando que assim seria, e pagou o que era devido à escolha. E esse papo de pressão causada pelo sucesso me dá até preguiça de comentar. Quer dizer que o problema foi o sucesso? Melhor seria ser fracassada, então? É melhor ser uma mega-estrela-pop-mundial ou cantar num boteco decadente no bairro mais perigoso da cidade? Pra mim, excesso de opções não é problema. O problema é a falta delas. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ontem à tarde, na av. Garibaldi, uma moça, também de 27 anos, levou um tiro nos rosto. Está na UTI. Espero que ela saia bem de mais essa barbaridade que chamamos carinhosamente de cotidiano. Garanto que não estava escrito na sua agenda: 16h, ser baleada no semáforo. Ela não teve opção. Um cara acordou, tomou café, tomou banho, limpou a arma, trocou de roupa, e decidiu que queria ter alguma coisa. E, para satisfazer seu desejo de ter algo, julgou que valia a pena tirar o direito de alguém decidir sobre a própria vida. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Amy escolheu sua trajetória de vida e morte. Outras tantas pessoas têm seu caminho interrompido sem que isso tenha acontecido de maneira consentida. Fernando Pessoa disse ser o homem um "cadáver adiado que procria". Eu não tenho pena de Amy. Na verdade, acho que ela foi bem feliz. Afinal, foi cadáver quando bem quis...</div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/16496136372003606200noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-70836153696092557062011-07-11T19:28:00.006-03:002011-07-11T22:36:11.016-03:00Jim Morrison e a Jornada do Herói<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqiV8M_1VLJ_2tLDcZyTHdLGVSx14VeBKkkd_J9qBQBWhNsvk3F6vuCkm0wGk4tUr5jRUfRj7zq4aEWkMrAFYjmFErIa46ToHronM3dURHLR8nnDJb1OUNydsrfozS3B7JUKCJ1Z30So5l/s1600/JIM+MORRISON.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 257px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqiV8M_1VLJ_2tLDcZyTHdLGVSx14VeBKkkd_J9qBQBWhNsvk3F6vuCkm0wGk4tUr5jRUfRj7zq4aEWkMrAFYjmFErIa46ToHronM3dURHLR8nnDJb1OUNydsrfozS3B7JUKCJ1Z30So5l/s400/JIM+MORRISON.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5628230025956522210" /></a><div style="text-align: justify;">James Douglas Morrison, ou apenas Jim, foi, pra mim, o maior <i>rockstar</i> da história. Conjugou música, presença de palco, e uma mística pessoal que, juntos, criaram o mito. Após 40 anos de sua morte (será mesmo?!), o fascínio em torno dele permanece. Jim tornou-se eterno porque sua vida trilhou caminho semelhante à Jornada do Herói, a estrutura narrativa mais presente em todas as histórias de sucesso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O americano Joseph Campbell foi um dos maiores especialistas em mitologia do mundo. Fascinado pela histórias dos grandes heróis mitológicos, comparou a trajetória dos deuses religiosos e fábulas antigas para criar o que chamou de "A Jornada do Herói", exposta no livro "O herói de mil faces". Essa jornada seria um roteiro de vida comum a todos os mitos e heróis, de Jesus Cristo a Luke Skywalker. Por sinal, Campbell foi, apenas, consultor de George Lucas para a criação da saga "Star Wars"! E os seus estudos são a base para a criação de diversos roteiros, de "Matrix" a "Um Tira da Pesada". A Jornada do Herói tem 12 etapas. Abaixo, falarei de cada etapa dando como exemplo a vida de Jim Morrison.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>1. O Mundo Comum</b> - <i>A maioria das histórias começa apresentando o cotidiano do herói, que depois será abalado.</i> Jim era um tímido estudante de cinema na Califórnia, com uma vida universitária bem comum.</div><div style="text-align: justify;"><b>2. Chamado à aventura</b> - <i>É quando algo acontece chamando o herói a sair do seu mundo</i>. Ray, que viria a ser o tecladista do <i>The Doors</i>, lê os poemas de Jim e sugere montarem uma banda</div><div style="text-align: justify;"><b>3. Recusa do Chamado</b> - <i>É o momento de hesitação do herói, quando ele tem que superar seus medos para ir à aventura.</i> Jim fica relutante em expor suas letras, e não se sente confiante porque nunca havia cantado antes. Nos primeiros shows, cantava de costas para a plateia. </div><div style="text-align: justify;"><b>4. Encontro com o mentor</b> - <i>O mentor é o personagem que prepara o herói para enfrentar a aventura.</i> Jim dizia que, aos 5 anos, viu índios mortos numa estrada do Novo México. E, naquele momento, o espírito de um xamã entrou em seu corpo. De repente, Jim começa a usar essa história como um sinal, um estímulo.</div><div style="text-align: justify;"><b>5. Travessia do Primeiro Limiar</b> - <i>Neste momento, o herói começa a aventura.</i> Jim perde o medo, suas performances no palco viram rituais, e ele tem total controle da plateia.</div><div style="text-align: justify;"><b>6. Testes, aliados, inimigos</b> - <i>É quando o herói aprende as regras do Mundo Especial e percebe quem são os aliados e quem são os inimigos.</i> A banda está unida, e eles aprendem como lidar com a imprensa e o assédio.</div><div style="text-align: justify;"><b>7. Aproximação da Caverna Oculta</b> - <i>Neste ponto, o herói encara a fronteira de um lugar perigoso e crucial na aventura.</i> Jim vira um astro do rock, cultuado pela crítica e adorado pelo público. Mas o clima de transgressão que ele prega começa a gerar um desconforto nas autoridades.</div><div style="text-align: justify;"><b>8. Provação</b> - <i>É a parte em que a vida do herói está em jogo. É aquela hora do filme que o herói só tem a opção de morrer ou de ir pro lado negro.</i> Jim foi preso, injustamente, acusado de atentado ao pudor. Depois disso, começou a ser perseguido por várias autoridades. No meio desse caos, o disco <i>Soft Parade</i> é mal recebido pela crítca. Será o fim?</div><div style="text-align: justify;"><b>9. Recompensa</b> - <i>Após sobreviver, o herói finalmente consegue pegar o tesouro.</i> Passada a turbulência, o <i>The Doors </i>lança o aclamado <i>Morrison Hotel</i>, volta ao topo das paradas, e constrói uma legião de fãs ainda mais fiel. </div><div style="text-align: justify;"><b>10. Caminho de Volta</b> - <i>É o início do terceiro ato do roteiro. Quando tudo parece tranquilo, eis que surge o problema final. É aquela perseguição surpresa no final do filme</i>. Jim é condenado a oito meses de trabalhos forçados.. </div><div style="text-align: justify;"><b>11. Ressurreição</b> - <i>De novo, parece que o herói morreu, mas ele sempre consegue se livrar e voltar ainda mais forte.</i> Jim é solto sob fiança e começa a gravar o excelente L.A. Woman.</div><div style="text-align: justify;"><b>12. Retorno com o Elixir</b> - <i>É quando o herói retorna ao mundo comum trazendo consigo o tesouro ou um ensinamento especial.</i> Jim decide dar um tempo na música, viver como uma pessoa comum, voltar a escrever poemas e roteiros, e muda-se para Paris com a namorada Pamela.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E, além disso, Jim ainda teve um final enigmático, comum apenas aos melhores roteiros e aos grandes mitos. Morreu de repente, poucos viram o corpo, o laudo oficial sobre a causa da morte é vago e impreciso, e os depoimentos sobre seus últimos dias ainda hoje são controversos. É o típico final que pode dar margem a uma continuação. E isso só serve para deixar o herói sempre vivo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E Jim falava que gostaria de fazer como Rimbaud, abandonando a carreira no auge para viver anônimo em algum lugar remoto. Alguém conhece um traficante de armas no Marrocos?!</div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/16496136372003606200noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-45083362222879138262011-06-29T11:00:00.003-03:002011-06-29T11:03:47.737-03:00Woody Allen em Paris e a metamorfose ionesca dos rinocerontes de Dalí<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimqUeqSecPQauATviIpAB5erx-zL76dhfBPFdZlkOKK1GSI0zaW4Fx94Gmf04SSwte604YBB3KETPg688dg_vd485uNXTUn_HUH_9JVuvA7VFOWW1VCTx89wYu_qQHwpYzQuxi90uu7w6A/s1600/meia+noite+em+paris.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 580px; height: 362px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimqUeqSecPQauATviIpAB5erx-zL76dhfBPFdZlkOKK1GSI0zaW4Fx94Gmf04SSwte604YBB3KETPg688dg_vd485uNXTUn_HUH_9JVuvA7VFOWW1VCTx89wYu_qQHwpYzQuxi90uu7w6A/s400/meia+noite+em+paris.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5623641702362660866" /></a><div style="text-align: justify;">Em "Meia-Noite em Paris", Owen Wilson é Gil Pender, um roteirista de cinema que divide sua atenção entre o romance que tenta escrever e a noiva que nem tenta entender (se é que ela é passível de entendimento). E, assim como o personagem principal do filme sempre é uma extensão do próprio Woody Allen, o personagem principal do livro de Gil também é um retrato do seu autor. Um cara nostálgico, saudosista, que considera ser o passado melhor que o presente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Durante uma viagem a Paris com a noiva e os sogros, Gil imagina como seria mais fácil escrever um romance cercado pela atmosfera criativa que inumdava a cidade nos anos 20. E, neste devaneio, ele consegue se transportar a este passado mágico. Gil tem, então, encontros com muitos de seus ídolos que habitavam a Cidade Luz naquela época: Picasso, Scott Fitzgerald, Hemingway, Cole Porter, Degas, Gauguin, Man Ray, Buñuel e o responsável por uma das passagens mais engraçadas: Salvador Dalí. No meio dessa coleção de citações, Gil tenta desabafar com Dalí, mas o surrealista se importa apenas com... rinocerontes!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Eugène Ionesco nasceu na Romênia, mas tornou-se escritor em Paris. Ícone do chamado "teatro do absurdo", ficou célebre pela peça "O Rinoceronte". Numa cidade comum, num dia qualquer, os habitantes são surpreendidos por um rinoceronte que corre pela rua. Ninguém sabe de onde veio. Apesar do absurdo da cena, logo voltam à banalidade corriqueira. Mas logo são surpreendidos por outro rinoceronte. E, pouco a pouco, os próprios habitantes se transformam em rinocerontes. Muitos, numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, dão por si na cama transformados num gigantesco bicho (não resisti em escrever dessa maneira Gregor Samsa!). E todos seguem essa metamorfose sem angústias, à exceção de Bérenger, que decide ser humano até o fim, custe o que custar. ionesco não deixou claro se os rinocerontes eram metáforas da estranheza frente ao mundo de uma maneira geral, numa coisa assim meio Camus; ou se representava algo específico. Diz a lenda que era uma referência ao nazismo, que mesmo sendo tão incomum e assustador, convenceu grande parte do povo alemão. Mas isso é outro papo. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Enquanto Bérenger quis enfrentar os absurdos e estranhamentos do presente, Gil preferiu fugir para um passado imaginário. Bérenger resolveu encarar o humano mundo cotidiano, mesmo que cercado por uma realidade tão estranha quanto um rinoceronte na sala de estar. Gil decidiu fugir dos rinocerontes nossos de cada dia, mas percebeu que de nada adiantava ser um escritor fora de sua época, pois os grandes artistas são fruto do <i>Zeitgeist</i>, do espírito do tempo em que vivem. Então, em vez de se refugiar no passado, seguiu Dalí e viu que só os rinocerontes importam.</div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/16496136372003606200noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-43657221466248393892011-06-13T21:20:00.005-03:002011-06-13T21:28:16.565-03:00Fernando Pessoa e a Coca-Cola em Portugal<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbFndqU7n6z1-PNRwwM-f3-QMe4RmnK8IYqMQ-u7T5q21dGIHhB-K4CZRTtEXiM_6izxlFUpHRBBKooVV1bi22E4LJSgeVhHmpd1229K_d93rMsOIV43LLqX-ZP59BSqRqoY3zcDwXswvt/s1600/fernando+pessoa.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 580px; height: 336px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbFndqU7n6z1-PNRwwM-f3-QMe4RmnK8IYqMQ-u7T5q21dGIHhB-K4CZRTtEXiM_6izxlFUpHRBBKooVV1bi22E4LJSgeVhHmpd1229K_d93rMsOIV43LLqX-ZP59BSqRqoY3zcDwXswvt/s400/fernando+pessoa.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5617864964611623474" /></a><div style="text-align: justify;">Num remoto 13 junho, há 123 anos, nascia Fernando Pessoa, um dos gigantes da língua portuguesa. Alguns chegam a compará-lo a Camões, mas isso é outro assunto. Pessoa sempre rejeitou a vida acadêmica, negando até a cátedra de literatura inglesa em Coimbra. Preferiu seguir como funcionário de uma multinacional, traduzindo cartas comerciais. Um dia, por volta de 1927, a empresa em que trabalhava decidiu importar Coca-Cola. Nos EUA, o slogan era “a pausa que refresca”. A empresa pediu à Pessoa que traduzisse o slogan, mas ele, que via o cotidiano de uma maneira muito particular, resolveu criar um novo slogan, e cravou: “primeiro estranha-se; depois entranha-se”. Realmente, como poesia, não há o que se discutir. O jogo de palavras, a sensação de quem experimenta pela primeira vez confrontada com a maneira que o sabor se propaga. Só que, à epoca, Portugal vivia a ditadura de Antônio Salazar. O pessoal da censura achou meio esquisito esse papo de entranha-se numa bebida que tinha coca. Era uma conversa psicodélica demais. Resultado: proibiram a bebida. A Coca-Cola, graças a Fernando Pessoa, só entrou em Portugal 50 anos depois, em 1977, 9 anos após a morte do poeta e 3 anos após o fim do regime. Acho que os executivos da Coca-Cola não devem gostar muito de Pessoa. Afinal, divagar não é preciso, vender é preciso...</div>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/16496136372003606200noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-50258831161112542442011-06-08T21:38:00.005-03:002011-06-08T22:42:36.851-03:00João, Juscelino, e o milagre de Diamantina<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg7l5ZfGiMZjR52-aNCln62mnCG1rHxajOPCJsGil1uyBz2Z5Zip3Kig0_c5FpY0KJdIzVKlUeKN-I99GnZirnGpV4APuqOCViYDovbxS2hfJ0OEJ5UpjxJSrwnDBiOnEaDdNxjjGnREaO/s1600/joao-gilberto-4.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 344px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg7l5ZfGiMZjR52-aNCln62mnCG1rHxajOPCJsGil1uyBz2Z5Zip3Kig0_c5FpY0KJdIzVKlUeKN-I99GnZirnGpV4APuqOCViYDovbxS2hfJ0OEJ5UpjxJSrwnDBiOnEaDdNxjjGnREaO/s400/joao-gilberto-4.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5616028964242883522" /></a><div style="text-align: justify;">Depois de não conseguir ser o novo Orlando Silva, o cantor das multidões, João Gilberto, frustrado, decidiu ir embora do Rio de Janeiro. Após uma temporada em Porto Alegre, decidiu se "exilar" em Diamantina, interior de Minas Gerais, na casa de sua irmã Dadainha. Chegou sem avisá-la, em setembro de 1955. Lá passou alguns meses sem botar o pé pra fora de casa. Nas primeiras semanas, não fazia absolutamente nada. Mas, de súbito, como se recebesse uma inspiração sabe-lá-deus de onde, pensou em uma nova maneira de fazer música. Passava horas tocando o mesmo acorde, muitas vezes trancado dentro do banheiro, e cantando de uma maneira diferente. Sua irmã, claro, achou que Joãozinho não tava muito bem da cabeça e o mandou pra Juazeiro, pra ver se os pais o ajudavam. Chegando em Juazeiro, o pai disse que aquilo não era música, era nhém-nhém-nhém. E, vendo o filho caladão, tocando aquelas coisas estranhas, mandou-o para Salvador para se consultar com psicólogos. Aqui, João foi avaliado, mas nada foi constatado. E ele, confiante de que tinha algo novo a apresentar, voltou para o Rio, de onde saíra fracassado. Desde Diamantina, João sabia que, finalmente, tinha encontrado o que procurava.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Também em setembro, também em Diamantina, num remoto 1902, nascia Juscelino Kubitschek de Oliveira. No outro setembro, o de 1955, Juscelino era o grande candidato à Presidência da República. Ex-prefeito de Belo Horizonte, ex-governador de Minas Gerais, destacava-se por ser jovem, arrojado, com idéias modernas e discursos encantadores. Prometeu progredir 50 anos em cinco. Muitos jornalistas, àquela época, deviam percorrer as ruas da pequena cidade para retratar o berço do futuro presidente, sem saber que ali estava nascendo a Bossa Nova.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Juscelino saiu de Diamantina para mudar o Brasil e virar história.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">João foi para Diamantina para mudar o mundo e se fazer eterno.</div><br /><br /><iframe width="580" height="465" src="http://www.youtube.com/embed/4Hq8NMwcvPw" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe><br /><br /><span class="Apple-style-span">Obs.: No post abaixo eu escrevi que o aniversário de João Gilberto é dia 11 de junho. Claro, errei e corrigi. A data correta é 10 de junho. Peço desculpas, principalmente àqueles que ficaram felizes por fazer anos no mesmo dia que João...</span>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/16496136372003606200noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2283864906764535431.post-55607659847224421242011-06-06T22:54:00.010-03:002011-06-07T19:35:47.292-03:00Joãozinho, o novo Orlando Silva?!<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBr3BW3igv_EfhrMap_v5m4stgjr3cjG2YKr7lAOKMe5-BGA5UXnwZeNMHmNQlFshq-T7YzW7tOUYHccGQd53jYgaIKQ2RkC43vKiXj5E88HAS8W6YYSzrEJE0oRJtquVgVt0Lk9l7dbec/s1600/joao+gilberto_2.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 352px; height: 366px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBr3BW3igv_EfhrMap_v5m4stgjr3cjG2YKr7lAOKMe5-BGA5UXnwZeNMHmNQlFshq-T7YzW7tOUYHccGQd53jYgaIKQ2RkC43vKiXj5E88HAS8W6YYSzrEJE0oRJtquVgVt0Lk9l7dbec/s400/joao+gilberto_2.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5615298955450960402" /></a>Dia 10 de junho é aniversário de João Gilberto. Fará 80 anos. E, em homenagem, farei uma semana de textos sobre ele. Vamos ao primeiro:<br />Em 1948, Juazeiro tinha apenas 10 mil habitantes. Entre eles, havia um jovem de 17 anos que todos chamavam Joãozinho de Patu, porque, como é comum no interior, João era filho de d.Patu! Joãozinho ganhou o primeiro violão aos 14 anos. Junto com amigos, montou grupos vocais, que eram a sensação na época. Em 1949, aos 18 anos, mudou-se para Salvador. O pai esperava que ele fizesse faculdade, mas ele seguiu com o intuito de ser cantor. Conheceu várias pessoas, e em 1950 foi pro Rio de Janeiro para ser <i>crooner</i> no grupo vocal Garotos da Lua. Naquela época, Joãozinho não cantava baixinho, quietinho, num banquinho. Cantava alto, inspirado pelos grandes cantores da época: Dick Farney, Lúcio Alves e Orlando Silva, o cantor das multidões. Mas Joãozinho foi demitido dos Garotos da Lua, e seguiu carreira solo. E, em 1952, conseguiu gravar seu primeiro disco que foi um enorme... fracasso! Joãozinho não conseguiu ser o novo Orlando Silva. Sorte nossa! Abaixo, o single "Quando ela sai".<br /><br /><iframe width="580" height="360" src="http://www.youtube.com/embed/guA9oT7AnDU" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe>Carlos Batalhahttp://www.blogger.com/profile/16496136372003606200noreply@blogger.com